Às vésperas do quarto aniversário do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, na noite de 14 de março de 2018, o Ministério Público do Rio (MP-RJ) ouve novos depoimentos e reexamina, com tecnologia mais moderna, os celulares aprendidos nas apurações. O objetivo é chegar ao mandante ou mandantes do duplo homicídio, ainda investigado como crime político.

Nas oitivas, são interrogadas pessoas da família e outras que trabalhavam com a vereadora. O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz estão presos há três anos, acusados de serem os executores do crime. O julgamento não foi marcado.

O coordenador do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MP-RJ), Bruno Gangoni, disse que os celulares são analisados com tecnologia de recuperação de mensagens. Segundo Gangoni, a hipótese de crime político só será confirmada quando o mandante for preso. Até agora, não há indicio da participação de milícias no duplo homicídio.

“Temos revisitado todo o material produzido ao longo da investigação”, afirmou Gangoni. “As provas dessa investigação são muito digitais; os softwares hoje têm capacidade tecnológica muito maior do que na época em que os aparelhos foram apreendidos. Todos estão sendo reavaliados na tentativa de conseguirmos encontrar novas mensagens.”

O Ministério Público avalia também novas informações enviadas pelo Google e aguarda dados do Facebook. O MP quer saber quem acessou a página de Marielle para consultar sua agenda. Postada na semana do crime, ela trazia detalhes sobre a palestra na Casa das Pretas. Após sair do evento, o carro em que iam Marielle e Anderson foi emboscado.

Em evento na manhã deste sábado, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), disse que tem cobrado as autoridades policiais sobre o caso. “A Polícia continua investigando. Não me meto em investigação, eu cobro resultado”, afirmou, ao “RJTV”, da TV Globo.

SOB ESCOLTA

A dificuldade para identificar os mandantes torna cada vez maior o risco para a atuação de mulheres na política, sobretudo as negras, afirmou a deputada estadual Renata Souza (PSOL). Para ela, a morte da vereadora foi um “feminicídio político”. Renata circula com seguranças. O mesmo ocorre com outras parlamentares negras que receberam ameaças de morte.

“O conceito de feminicídio político surge após o assassinato de Marielle Franco como um conceito quase que existencial”, disse. “Estou falando de mulheres que estão na linha de frente da política, que sofrem um processo de violência política constante, que pode chegar a um feminicídio político. Isso é muito sério.”

Primeira vereadora trans da Câmara Municipal de São Paulo, Érika Hilton (PSOL) afirmou na CPI da Violência Contra Pessoas Trans e Travestis, na quinta-feira, que foi ameaçada de morte várias vezes. Como Renata, vive sob escolta. Outra vereadora trans, Benny Briolly (PSOL), de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, sofreu três ameaças de morte.

A deputada federal Talíria Petrone (PSOL), que era amiga de Marielle, precisou sair do Rio por causa de ameaças. Para ela, a demora na resolução do crime expõe a “fragilidade da democracia brasileira”. “Enquanto não temos resposta a essa execução política, os casos de violência contra nós só aumentam”, disse.

“Além de termos que lidar com as dificuldades inerentes a uma sociedade fundamentada no racismo estrutural, também corremos o risco de não podermos exercer o mandato para o qual fomos eleitas”, afirmou. “Não podemos perder mais nenhuma de nós e não queremos entrar para a história como mártires.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.