Marcos Di Lascio, 48 anos, tinha um emprego invejável. Era o presidente da Semp Toshiba Informática. Ganhava muito bem, tinha vários benefícios, posição de liderança e voz ativa no mundo executivo. Largou tudo no começo deste mês e foi para Ilhéus, atraído pelas belezas naturais da cidade baiana, pela qualidade de vida e também por generosos incentivos fiscais. Aproveitou o conhecimento no setor e montou lá a Kelow, empresa que vai produzir PCs e servidores com a bênção do Senhor do Bonfim e do governador do Estado, César Borges. Tem planos ousados. Promete brigar no mercado corporativo e firmar posição entre as centenas de produtores de pequeno porte, responsáveis por 60% deste segmento. Os outros 40% estão nas mãos de gigantes como HP, Compaq e IBM. ?Há muito espaço neste mercado. As vendas de PCs devem aumentar pelo menos 70% nos próximos anos?, garante Di Lascio.

Se as previsões do empresário estiverem corretas, não vai demorar muito para que a Kelow comece a produzir no limite de sua capacidade instalada, de 6 mil unidades por mês. Acertos futuros também devem dar um empurrãozinho nos negócios de Di Lascio. Mal abriu as portas e ele já está de olho em parceiros internacionais. Nos últimos meses, andou conversando com empresas dos Estados Unidos e do Japão, mas por enquanto são apenas prospecções. ?Procuro quem possa agregar valor ao negócio, principalmente tecnológico, e aceite uma gestão profissional?, avisa. Di Lascio acredita que daqui a um ano os US$ 4 milhões que investiu vão se transformar em um faturamento de US$ 6 milhões. Mas a cautela também entra em seus planos. Como tem uma estrutura pequena, com apenas 18 funcionários, ele deve copiar um modelo adotado usado pela maioria dos grandes competidores. Vai terceirizar toda a equipe de vendas e de assistência técnica. Assim, não corre o risco de perder clientela por falta de atendimento. Até nisso ele deve se inspirar nos grandes competidores. O atendimento técnico deverá ser feito pelo mesmo pessoal que trabalha com a americana Dell, por exemplo.

Novo pólo. Di Lascio descobriu a Bahia ainda nos tempos de Semp Toshiba. A multinacional produz no Estado alguns de seus equipamentos de informática. ?Não é de hoje que a Bahia começa a despontar como pólo de informática no Brasil?, diz o empresário. Somente na pequena Ilhéus já são mais de 20 fabricantes, prova de que a prática de prorrogar o pagamento de tributos como ICMS ou IPI opera milagres. As vantagens tributárias de Ilhéus, aliadas ao descontentamento com os rumos administrativos na Semp To-shiba, formaram a combinação perfeita para a decisão de Di Lascio. Ele nem precisou pensar muito na hora de trocar a segurança do contra-cheque, do bônus de fim de ano e das férias pelas incertezas de voltar a ser dono do próprio nariz. O empurrão que precisava aconteceu quando as interferências no trabalho passaram a ser cada vez mais freqüentes. Segundo ele, os sócios brasileiros da Semp Toshiba ? a família Hennel ?, donos de 60% do capital, deram à empresa um perfil diferente do que ele gostaria. Apesar da saída, o ex-executivo garante que não houve indisposição entre os dois lados. Ele chegou ao comando da empresa há quatro anos, depois que vendeu para a multinacional japonesa 90% de seu negócio anterior, a Lince, especializada em montagem de PCs. ?Os contornos familiares que a empresa vinha ganhando nos últimos tempos eram bem diferentes do meu estilo de trabalho. Achei que era melhor partir para outro desafio?, explica. Agora está livre para tocar, a seu modo, a própria empresa. E, quem sabe, repetir o sucesso que teve à frente da Semp Toshiba. Quando entrou na multinacional, em 1996, o faturamento era de US$ 10 milhões. Deixou a empresa com vendas de US$ 65 milhões.