Alheios à polêmica sobre a liberação dos serviços de viagens com motocicletas para passageiros – a Prefeitura de São Paulo suspendeu o Uber Moto na semana passada e promete regulamentar a atividade -, moradores de vários bairros já enxergam a garupa das motos como uma opção de transporte no dia a dia.

Principalmente nos terminais urbanos da zona sul da capital paulista, as motos dividem espaço com os veículos por aplicativos, vans e ônibus. Para atrair mais passageiros, os mototáxis oferecem de capacetes higienizados a Wi-Fi gratuito.

No Grajaú, cerca de 50 motos se dividem em três terminais (Varginha, Estação Grajaú e Estação Mendes Vila Natal) diariamente. Elas ficam estacionadas em fila, como nos pontos de táxi, mas muitos mototaxistas “passam a vez” quando a corrida não é atrativa – existe uma tabela de preço, baseada na distância até o destino, mas há espaço para pechincha.

Eles trabalham uniformizados do lado de fora dos terminais. Por causa da informalidade da atividade, os profissionais se mostraram receosos com a presença do Estadão na noite da última segunda-feira, 9. Desconversam e evitam detalhes sobre o trabalho; a maioria prefere usar nomes fictícios.

Rotina

O negócio é agitado, a moto fica desligada apenas de 10 a 15 minutos à espera de clientes. Mas há limitações. A tarifa é menor que os veículos por aplicativo, mas supera os ônibus e as vans.

O eletricista Antonio Carlos, de 45 anos, considera a moto uma boa alternativa para situações de emergência, mas diz que não dá para usá-la todo dia. Ele conseguiu baixar o preço de R$ 18 para R$ 15 de uma viagem para um bairro próximo da estação.

A discussão sobre os mototáxis ganhou força na semana passada depois que a empresa de transporte por aplicativo Uber anunciou o serviço em São Paulo. Um dia depois, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) assinou um decreto suspendendo o serviço por tempo indeterminado.

A Prefeitura vai criar um grupo de trabalho para analisar a viabilidade e a segurança do serviço. No Rio, o prefeito Eduardo Paes também se mostrou contrário ao Uber Moto.

Segurança

O grande desafio é a segurança. Os motociclistas estão entre as principais vítimas de acidentes de trânsito. Em 2021, foram 380 mortes em acidentes na capital, de acordo com o Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga). Isso representa 45% dos óbitos no trânsito no ano passado.

Para contornar o problema, João Neto, de 35 anos, afirma que os profissionais são orientados a tomar precauções adicionais, como evitar passar pelo canto das lombadas, por exemplo. Para os clientes, principalmente os iniciantes, a principal recomendação é acompanhar as curvas e deixar o “corpo mole”.

A balconista Andressa Pereira, de 32 anos, pede para o motorista não correr. “A moto ganha bastante tempo cortando os engarrafamentos”, diz a moradora da Vila Natal que saía do Terminal Varginha. A exemplo da maioria dos passageiros, ela está habituada a usar moto – própria ou de terceiros.

Para conquistar passageiros, os mototáxis oferecem alguns atrativos. No Terminal Santo Amaro, Jeremias da Silva, nome fictício, higieniza os capacetes com álcool 70% a cada viagem, oferece capa de chuva e até Wi-Fi grátis – o sinal é cedido a partir do seu próprio celular por meio do roteador. “É uma estratégia para atrair os clientes”, diz.

No Brasil, a profissão de mototaxista é regulamentada pela Lei Nº 12.009, de 2009. Em junho de 2018, o então prefeito Bruno Covas (PSDB) proibiu o transporte remunerado de passageiros em motocicletas. Um ano depois, o Tribunal de Justiça decidiu que a lei era inconstitucional e liberou a atividade na cidade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.