A fabricante de celulares Motorola está recuperando o fôlego no mercado brasileiro de um jeito simples ? em vez de mirar os aparelhos sofisticados com telas coloridas, câmeras fotográficas e transmissão de vídeos, a companhia espalhou por todo o Brasil celulares populares, com visor preto e branco e condições favoráveis de financiamento em até doze vezes. Em dois anos, a estratégia levou a empresa de uma participação de 16% nas vendas para os atuais 34%, de um total de 16 milhões de unidades comercializadas ao ano. A apenas onze pontos percentuais atrás da líder Nokia, agora a companhia americana faz planos para avançar ainda mais na preferência dos 46 milhões de pessoas que utilizam celulares no Brasil. ?Vamos brigar pela liderança este ano porque o preço no Brasil ainda é um fator importante na escolha do consumidor?, diz Luís Carlos Cornetta, diretor-geral da Motorola no Brasil. Os quatro telefones mais vendidos da empresa não custam mais do que R$ 400. Num país em que os consumidores controlam com rigidez seus gastos e os telefones pré-pagos representam 70% do mercado, o feijão-com-arroz fez sucesso. ?A maioria das pessoas quer apenas aparelhos que recebam mensagens e, no máximo, tenham uma secretária eletrônica?, afirma Cláudio Felisoni di Angelo, coordenador do Programa de Estudos do Varejo da Universidade de São Paulo. Segundo ele, essa situação irá se manter até que a produção em escala reduza os preços dos equipamentos mais sofisticados. ?É como os carros?, compara Felisoni. ?Chega uma hora em que ninguém mais compra automóvel sem injeção eletrônica.?

 

Erros. A Motorola também aprendeu com os próprios erros. No início da década de 90, a empresa insistiu na tecnologia analógica quando a Nokia trouxe o mundo digital para os celulares. Essa má avaliação custou-lhe a liderança. Em 1997, a fabricante deixou de insistir no seu padrão de tecnologia preferido e voltou a crescer. ?Desta vez, a Motorola preferiu seguir o mercado?, diz Carlos Eduardo Rocha, responsável pela área de telecomuni-
cações da consultoria Bearing Point. Nos últimos dias, a empresa lançou mundialmente o primeiro celular capaz de funcionar em duas tecnologias, GSM e CDMA. Em teoria, o modelo batizado de A840 poderia ser usado no Brasil pela Vivo, pela Oi ou pela TIM. Sem o padrão tecnológico para atrapalhar, o que passa a contar mais é a capacidade de atender o consumidor. E o brasileiro quer pagar menos.