Foi fabricando rádios comunicadores que davam consistência, velocidade e dinâmica às ações policiais nos Estados Unidos que a Motorola nasceu, em 1928. Auxiliar as forças de segurança a combater o crime é, portando, algo que está em seu DNA. De lá para cá, porém, ela se aventurou no competitivo mundo dos celulares, segmento que a tornou conhecida dos brasileiros. Agora, a empresa está investindo pesado em tecnologias que ofereçam novas ferramentas à atividade policial. Com aquisições feitas principalmente no ano passado, a Motorola encorpou seu portfólio, formado por soluções de transmissão de voz e dados, com produtos e serviços de vídeo e softwares, inclusive com Inteligência Artificial. “Temos espaço importante para crescer”, afirma Elton Borgonovo, presidente da Motorola Solutions Brasil.

Há oito anos, a Motorola Mobility, que atuava no setor de telefonia celular, foi vendida para a Google, que repassou as operações para a gigante chinesa Lenovo. Desde então, a companhia americana é responsável apenas pela Motorola Solutions, que sempre carregou em seu escopo as comunicações de missões críticas, para forças de defesa e segurança pública e privada – a relevância da marca sempre foi muito forte no campo da comunicação para setores de segurança. Foi com esse propósito que os americanos foram ao mercado adquirir empresas que pudessem incorporar valor e ampliar o cardápio de produtos e serviços. Em 2018, a canadense Avigilon, de análise de vídeos e de vigilância avançada, foi comprada por US$ 1 bilhão. Em 2019, mais três aquisições que consumiram US$ 700 milhões no total: a VaaS, líder em análise de imagens e dados para localização de veículos roubados; a Avtec, fornecedora de serviços de despacho de protocolo de voz sobre Internet (VoIP) por rádio móvel terrestre (LMR) e redes de banda larga; e a WatchGuard, que projeta e fabrica sistemas de vídeo para viaturas, câmeras junto ao corpo, sistemas e softwares de gerenciamento de evidências.

Com o corpo mais robusto, a intenção é oferecer essas novas soluções aos atuais clientes – como polícias estaduais, Exército, Petrobras, Vale, entre outras – e apresentar a potenciais parceiros para incrementar ainda mais o faturamento global da companhia, que no ano passado foi de US$ 7,9 bilhões, crescimento de 7% em relação a 2018. A matemática da Motorola para crescer leva em consideração a fórmula usada pelo poder público para combater a criminalidade e diminuir a violência: ao invés de aumentar o efetivo humano de policiais, investe-se em tecnologia para obter resultados mais eficientes. “As aquisições abrem um novo mercado, com oportunidade de crescimento fantástico”, afirma Elton Borgonovo.

CÂMERAS Uma das apostas são as câmeras de corpo apresentadas durante conferência de imprensa em São Paulo, no início do mês, que os policiais levam junto ao uniforme para gravar as operações e, com isso, gerar provas ou melhorar métodos de abordagem. As gravações são acionadas tanto por um botão quanto por uma ação — que pode ser um comando de voz, sacar a arma do coldre ou abrir a porta do veículo. O equipamento pode ainda ser ativado automaticamente ao se aproximar de outro policial que já esteja gravando a ocorrência.

A automação dos processos visa deixar as mãos dos agentes livres para outros procedimentos, como sacar a arma. “Vocês vão ver num futuro bastante breve nossas policiais usando essas câmeras”, diz Borgonovo, sobre a câmera que é realidade em corporações ao redor do mundo, como na de Londres (Inglaterra). Ele faz mistério sobre o Estado da federação que está adiantado na utilização da ferramenta, mas um dos principais contratos da empresa é com a Polícia Militar de São Paulo.

Outra solução da Motorola Solutions é o reconhecimento automático de placa (ALPR) de veículos. O sistema é parecido com o detecta, já presente em São Paulo, mas que possui câmeras em pontos fixos. A empresa americana dispõe de equipamentos a serem instalados nas viaturas policiais e integrados a softwares inteligentes. Permitem leitura da placa e consulta de bancos de dados para determinar se o veículo é roubado ou se está associado a um mandado pendente. Com recursos de análise de dados em tempo real, os policiais têm acesso a informações antes mesmo da abordagem.

O portfólio de recursos inclui o gerenciamento no trato da informação. Enquanto o carro policial ou de segurança passa pela rua, todo o georreferenciamento é armazenado: data, hora, localização do veículo e placa. Com os dados guardados, é possível, inclusive, saber onde o automóvel geralmente fica estacionado e por onde ele transitou no passado. Informações que podem ser usadas em futuras buscas, caso ocorra um crime envolvendo aquela placa.

O novo catálogo da Motorola também serve para centros de comando e controle de segurança e defesa. E, nesse caso, tanto para o setor público quanto privado, como em eventos esportivos ou shows. As câmeras possuem alta definição e Inteligência Artificial, que identifica, por exemplo, movimentos suspeitos e de pessoas armadas. “Os bancos estão trabalhando nisso”, diz Borgonovo.