Em janeiro o Brasil vai substituir a Inglaterra como fornecedor de tratores para mais de 40 novos mercados compradores. A decisão é da americana Agco, que produz as máquinas agrícolas Massey Ferguson. Como parte de um amplo programa de reestruturação, ela decidiu desativar sua unidade inglesa de Coventry e acabou elegendo a fábrica de Canoas, no Rio Grande do Sul, para novo pólo de abastecimento do mercado internacional. A escolha do Brasil não foi ao acaso. Reflete o potencial tecnológico que o País alcançou nos últimos anos na produção de tratores, colheitadeiras, semeadeiras e demais equipamentos agrícolas. Tanta competência pode ser medida nos resultados das empresas: neste mês, o setor completa 30 meses de crescimento contínuo nos mercados interno e externo. Além da Massey, marcas como New Holland, Case e Agrale estão fazendo a festa nos campos brasileiros. De janeiro a agosto deste ano as vendas foram 20% maiores que em 2001, atingindo 27 mil máquinas ou mais de US$ 1 bilhão. Somente a Agrale cresceu 50% neste período. A previsão para 2002 é de que o setor comercialize 40 mil unidades.

Até o fim do ano, as exportações devem chegar a US$ 620 milhões, ante US$ 548 milhões no ano passado. E as indústrias querem mais. A Agco está investindo US$ 15 milhões na ampliação da fábrica de Canoas. ?Vamos exportar para mais 41países além dos 24 que já atendemos?, diz o diretor de Manufatura, Roberto Dall?Agnol. Com isso, a empresa vai produzir 7 mil máquinas a mais do que fabrica hoje e alcançar a capacidade de 20 mil unidades anuais. Boa parte dessa produção será exportada em CKD, termo usado para a venda dos produtos desmontados.

No mesmo caminho segue a CNH, detentora das marcas Case e New Holland, principalmente em relação aos produtos de alta tecnologia. Da colheitadeira Axial-Flow, por exemplo, houve crescimento de 46 para 143 unidades vendidas nos oito primeiros meses de 2002 em relação a igual período de 2001. A qualidade do produto é o que traz o resultado, segundo o diretor-comercial da CNH, Francesco Pallaro. ?As máquinas atuais registram perdas de no máximo 1%. Há uma década chegava a quase 7%?, compara.

 

?Hoje a qualidade e a velocidade de lançamentos de produtos por aqui acompanham a dos centros mais competitivos, que são o americano e o europeu?, afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Persio Luiz Pastre. Essa evolução do potencial tecnológico é em boa parte fruto do crescimento da agricultura brasileira e do apoio do governo no financiamento da substituição da frota agrícola. O impulso de crescimento do setor coincide com o lançamento do programa Moderfrota, em 2000. Em três anos, os recursos repassados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) somam R$ 3,5 bilhões. Agora, o setor se prepara para negociar
com o próximo governo a manutenção das políticas para os
anos de 2003 e 2004.