Em Wall Street, tudo parece estar indo bem para as ações de tecnologia, que em grande parte impulsionaram a impressionante recuperação do mercado de ações no segundo trimestre e empurraram sistematicamente o Nasdaq para novos recordes.

O índice, que agrupa empresas de tecnologia na praça de Nova York, ganhou 18% desde o início do ano e fechou sexta-feira com seu 27º recorde em 2020.

“A tecnologia foi o principal combustível para a forte recuperação (de ações) que ocorreu após o desastre de março”, observa Daniel Ives, analista financeiro da Wedbush Securities.

“A pandemia da COVID-19 impulsionou o fortalecimento da ‘nuvem’ e das tecnologias para o público em geral, além dos pilares da GAFAM”, acrescenta.

Essa sigla é usada para se referir a cinco gigantes da Internet: Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft, que juntas representam mais de um quarto do valor das ações acumuladas pelas 500 maiores empresas de Wall Street. Todos viram suas ações e seu valor decolarem entre abril e junho.

Ao mesmo tempo, algumas ações emblemáticas nos setores atingidos pela pandemia foram retiradas do índice ampliado S&P 500, considerado o mais representativo do mercado de ações. É o caso das lojas de departamento da Macy’s e da fabricante de motocicletas Harley Davidson.

De acordo com Howard Silverblatt, especialista em índices da S&P Dow Jones Indices, a evolução natural do S&P 500 deve levá-lo a integrar mais ações de tecnologia.

Ives diferencia entre o atual aumento no setor de tecnologia e a bolha da Internet no final dos anos 90.

“A apreciação de hoje é justificada pelos fundamentos do crescimento, diferentemente dos valores totalmente ilusórios há 20 anos”, avalia.

O caso da fabricante de veículos elétricos de ponta Tesla, que em julho se tornou o número um na capitalização de mercado do setor automotivo, mesmo à frente da Toyota, é representativo.

A empresa vende muito menos carros do que GM, Ford ou Fiat-Chrysler, mas os investidores estão interessados nos avanços tecnológicos dos modelos da empresa californiana e no crescimento da porcentagem de veículos elétricos no mercado.

– Ameaças –

Medidas de confinamento para combater o coronavírus e a disseminação do teletrabalho também beneficiaram vários nomes de tecnologia nos últimos meses, incluindo o serviço de videoconferência Zoom, a plataforma de streaming da Netflix e o desenvolvedor e editor de jogos de vídeo Activision Blizzard.

“Foi estabelecida a ideia de que essas empresas são importantes hoje e continuarão assim após a pandemia”, diz Quincy Krosby, chefe de estratégia de mercado da Prudential.

Entretanto, “toda vez que a economia deu sinais de revitalização, vimos realização de lucros” pelos investidores “nos grandes nomes da tecnologia e um reinvestimento desse dinheiro para (empresas de) finanças ou bens e serviços”, diz Krosby.

Ameaças políticas e judiciais a gigantes da Internet são outra fonte de preocupação para os investidores, embora sem causar pânico.

Os dirigentes de Google, Apple, Facebook e Amazon serão interrogados em 27 de julho por parlamentares no Congresso dos Estados Unidos no âmbito de uma das investigações sobre possíveis práticas anticompetitivas.

Nesse dia, será possível avaliar se é uma questão de conflitos políticos “ou se é o começo de algo mais amplo”, observa Daniel Ives, para quem uma possível vitória do oponente democrático Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro pode deixar os investidores mais desconfortáveis em relação esses gigantes da tecnologia.