Por mais lamentável que possa parecer, está mais do que consensual a ideia de uma paralisia completa da economia. É uma crise única, assombrosa. O Fundo Monetário Internacional (FMI) acaba de compara-la à hecatombe de 1929, que levou as bolsas ao crash, populações à fome e à pobreza extrema e o mundo ao desespero. Esta é ainda pior. Extrapola o campo financeiro e dos negócios para se instalar no tecido social como uma chaga de consequências psicológicas agudas. A pandemia de Covid-19 irá irremediavelmente mudar processos e prioridades do capitalismo. Algo de novo, ainda não completamente visível, está em andamento nesse campo. O nível de coordenação da produção aqui e no mundo será diferente. As pessoas e empresas já estão, forçosamente, tendo de reaprender outros meios de geração de riqueza. O papel do Estado como salvaguarda e esteio do empreendedorismo voltou a ficar em evidência. Não existem mais dúvidas de que os gastos públicos devem subir exponencialmente em situações de calamidade como a atual. Os critérios de alocação de recursos é que serão importantes. Socorros de emergência a setores mais afetados devem se somar a um atendimento primordial junto aos estratos mais carentes da sociedade. É do conjunto desses dois movimentos que surgirá alguma luz no fim do túnel. Organismos multilaterais sugerem que as economias com maior capacitação técnica, avanços na educação e fôlego financeiro para bancar o estrago da pandemia sairão mais rapidamente do que vislumbram com uma recessão global incomparável. Nesse tocante, o Brasil não reúne as melhores condições para entrar no clube dos vencedores. Por aqui, somente a injeção de recursos na veia poderá trazer algum fôlego. O BNDES, por exemplo, está agora chamando os bancos privados para coordenar uma espécie de “sindicato financeiro” para salvar as empresas e, por tabela, os empregos. O plano é adotar em massa operações combinadas que envolvem debêntures conversíveis em ações e as chamadas “warrants” (opções de compra de ações associadas a emissões de títulos privados). Essa modalidade de atuação foi inicialmente pensada pelo ministro Paulo Guedes, que se espelhou em modelos semelhantes adotados na Europa para religar a economia local. Em paralelo, quase cinco mil empresas já se reuniram em uma mobilização para evitar demissões por, pelo menos, 60 dias. Muitas delas entendem que o desempregado de hoje deixará de ser o consumidor de amanhã, fazendo parte de um ciclo perverso que irá afetar o próprio negócio de cada um. Em linhas gerais, a percepção de que está tudo interligado e de que a recuperação depende de uma reação conjunta e uniforme vem prevalecendo. Para acionar de novo a locomotiva, só mesmo muita força reunida.