A Rússia expressou seu apoio ao Irã nesta terça-feira (26), pedindo ao presidente recém-empossado dos Estados Unidos, Joe Biden, que reintegre o país ao acordo nuclear iraniano para salvá-lo e para garantir seu cumprimento por parte de Teerã.

Este tema é considerado prioritário pelas grandes potências, após a saída de Donald Trump da Casa Branca, na semana passada. O republicano retirou os EUA do acordo em 2018.

Washington e Teerã exigem que o outro dê o primeiro passo para salvaguardar este texto de 2015. O pacto pôs fim às sanções contra o Irã em troca do controle de seu polêmico programa nuclear.

Durante viagem a Moscou, o chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, garantiu o apoio da Rússia, país aliado do Irã.

“Esperamos (…) que os Estados Unidos voltem a cumprir integralmente a resolução correspondente do Conselho de Segurança, criando as condições para que o Irã cumpra todas as suas obrigações no âmbito do acordo nuclear”, disse o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

– França-EUA contra Irã-Rússia –

Segundo Zarif, o Irã “retornará ao cumprimento integral de suas obrigações”, se os Estados Unidos “encerrarem suas sanções antes (final de fevereiro)”.

Já a França, também signatária do acordo, expressou uma visão contrária dos russos, dizendo que, se os iranianos querem um “reengajamento” americano, devem parar com todas as “provocações” e retornar às “suas obrigações”, segundo a Presidência francesa.

Em 2015, a República Islâmica do Irã e o Grupo P5+1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha) concluíram em Viena um Plano de Ação Conjunto Global que deveria resolver a questão nuclear iraniana, após 12 anos de tensão.

O acordo se encontra à beira do fracasso desde que Trump retirou os Estados Unidos unilateralmente, reinstaurando e intensificando as sanções americanas contra o Irã. Os americanos acusam Teerã de continuar buscando adquirir armas atômicas.

Teerã, por sua vez, liberou-se desde 2019 da maioria de seus compromissos, embora negue a tentativa de obter armamento nuclear.

O Irã retomou suas atividades de enriquecimento de urânio na ordem de 20%, embora tenha concordado em limitá-lo a 3,67%.

A chegada ao poder de Joe Biden, que vê a política de Trump em relação ao Irã como um fracasso, aumenta a esperança. O democrata diz que quer levar os Estados Unidos de volta ao texto, mas pede que o Irã volte a cumprir estritamente seus compromissos.

O desafio para os diplomatas será, portanto, como combinar os pré-requisitos contraditórios dos americanos, de um lado, e dos iranianos, agora apoiados pela Rússia, do outro.

Moscou, aliado tradicional de Teerã no Oriente Médio, condenou repetidamente a saída unilateral dos EUA do acordo e culpou os europeus por sua impotência diante de Washington.

Nesta terça, Lavrov e Zarif ressaltaram, no entanto, seu desejo de “salvar” o acordo.

A Rússia também pediu a Teerã em dezembro que evitasse demonstrar “superioridade”.

O Irã deve “mostrar responsabilidade máxima”, enfatizou o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Riabkov, em dezembro passado.

Isso não impediu Teerã de anunciar, em janeiro de 2021, que havia reiniciado a produção de urânio enriquecido a 20%.

Para Moscou, o acordo nuclear iraniano não está condenado, porque é uma das raras questões em que Moscou e Washington têm um interesse comum em avançar.

Também em dezembro, Riabkov estimou que um “diálogo seletivo” com os Estados Unidos poderia ser realizado no Irã, como no tratado de desarmamento nuclear New Start.

As relações russo-americanas estão, contudo, em seu nível mais baixo em anos. E a chegada de Biden à Casa Branca não significa distensão, pois o novo presidente dos Estados Unidos já dirigiu palavras inflexíveis à Rússia.