O número de pessoas mortas por atropelamentos na capital paulista aumentou 30% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2016, segundo dados do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga). Em janeiro, fevereiro e março foram registradas 104 mortes, ante 80 no mesmo período de 2016.

Se considerados apenas os meses de fevereiro e março, o porcentual de aumento é maior, 48%, de 54 para 80 ocorrências. O Infosiga é produzido pelo governo estadual, com base em dados coletados de boletins de ocorrência feitos pela Polícia Civil. Em janeiro, o total de ocorrências havia caído de 26 no ano passado para 24 neste ano.

O aumento ocorre em meio às mudanças nas políticas sobre limites de velocidade tocadas pela Prefeitura desde 25 de janeiro, quando as Marginais tiveram as máximas permitidas aumentadas.

Os dados do Infosiga mostram que os atropelamentos fatais estão espalhados pela cidade – nenhum deles aconteceu nas Marginais. Levando em consideração apenas o mês de março, 25 das 42 vítimas eram pessoas com 50 anos ou mais.

Para estudiosos ligados à área de transporte, as mudanças técnicas têm relação com o aumento das mortes, mesmo sem o registro de casos diretamente nas Marginais – a Prefeitura nega.

“Houve um aumento da presença de agentes nas Marginais e uma redução de fiscalização fora dela”, afirma Horácio Augusto Figueira, mestre em Engenharia de Transportes pela Universidade de São Paulo (USP), que presta consultoria para o Infosiga. “Você vê menos agentes de trânsito nos bairros, especialmente fiscalizando a atitude dos motociclistas e infrações como mudanças de faixa e falar ao celular enquanto dirige.”

Ele ressalta ainda que o crescimento do número de agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) nas Marginais não significa aumento da fiscalização feita por eles. “Seria preciso ver quantas multas esses agentes estão aplicando. Eles ficam esperando um acidente acontecer para agir. Com todo o respeito, mas é a ‘operação urubu’ que ocorre lá”, diz.

A CET afirma que o programa Marginal Segura “foi responsável pela implementação de uma série de ações de segurança, sinalização e educação no trânsito” e destaca que o efetivo de agentes nas pistas passou de 45 para 75 a cada turno. Isso foi possível, de acordo com a empresa, porque houve uma “redistribuição” dos funcionários de outras áreas, “que passaram a compor o efetivo operacional nas Marginais sem comprometer o atendimento em outras vias da capital”.

Comportamento

O arquiteto e urbanista Ricardo Corre, consultor de projetos de mobilidade voltados para pedestres e ciclistas, afirma que cidades com variações de velocidade muito altas podem induzir o motorista a acelerar mais em locais de limites mais baixos. “Pegue Paris, por exemplo. Lá, a velocidade varia entre 40 km/h e 50 km/h, não existe essa variação entre 50 km/h e 90 km/h.”

“Quando as velocidades baixaram nas Marginais, dei entrevistas dizendo que o principal benefício seria sentido nas ruas do entorno delas, que também teriam motoristas circulando em velocidades mais baixas. O mesmo ocorre agora, com impacto nos entornos das Marginais”, afirma o arquiteto.

Estado

O Infosiga contabiliza todos os tipo de mortes por acidentes de trânsito nos 645 municípios do Estado de São Paulo. No geral, as cidades paulistas também registraram um aumento de mortes por atropelamento no primeiro trimestre deste ano. O porcentual, entretanto, é a metade do que foi registrado na capital: 15%. Foram 331 mortes entre janeiro e março de 2016 ante 383 ocorrências registradas nos três primeiros meses deste ano.

Secretário promete série de ações

O secretário municipal de Transportes, Sérgio Avelleda, reconhece que existe um aumento de mortes de pedestres na capital paulista e diz que a Prefeitura está preparando um conjunto de ações para enfrentar o problema já a partir das próximas semanas. “Vamos anunciar o programa Pedestre Seguro, logo na primeira semana do Maio Amarelo (um mês de ações voltadas à redução de acidentes de trânsito). Uma série de ações de engenharia, de sinalização, de orientação, de fiscalização, para melhorar a segurança do pedestre”, afirmou. “A preocupação hoje é primeiro com os pedestres, que têm um índice de letalidade muito elevado, e isso envolve toda as áreas da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e também da SPTrans, porque os ônibus também provocam mortes de pedestres. E, em segundo lugar, com os motociclistas, que também são grandes vítimas.”

Avelleda afirmou que, se a cidade fosse capaz de eliminar as mortes de pedestres e motociclistas, alcançaria “tranquilamente” as metas que a CET estabeleceu para diminuição de óbitos – reduzir as mortes na cidade à metade até 2020, tendo como referência o ano de 2013. “É um foco até epidêmico o número de mortes de motociclistas e pedestres e nós vamos atacá-lo”, disse o secretário.

O secretário disse também que há diferentes metodologias para medir o número de acidentes da cidade. “O que precisamos é, com calma, analisar as causas.”

Em nota, a CET informou que os dados do Infosiga “são mais uma contribuição para a análise dos acidentes ocorridos na cidade”, embora a companhia tenha a própria metodologia de acompanhamento de acidentes de trânsito, que usa informações produzidas pela própria companhia, pelas Polícias Civil e Militar e também pelos órgãos de saúde que atendem as vítimas da capital.

“Apesar de não comentar um estudo feito por outro órgão, a CET afirma que é incorreta, estatisticamente, qualquer tentativa de atribuir a variação nos números de acidentes às mudanças nas Marginais”, argumentou a empresa, por meio de nota. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.