Na lista de argumentos usados pela direção da montadora Ford para justificar o fechamento de suas três fábricas no Brasil este ano, após mais de um século de atividade no País, predominam fatores de mercado. A empresa, que em 2019 já havia encerrado a produção de caminhões e fechado a unidade de São Bernardo do Campo (SP), apontou a queda nas vendas em 2020, de quase 40%, para justificar a descontinuidade das demais plantas, que estariam ociosas. Elas ficam em Camaçari (BA), onde é produzido o modelo Ka, sexto veículo no ranking de vendas do País; em Taubaté (SP), esta destinada a motores; e em Horizonte (CE), berço do jipe Troller. Em seu comunicado sobre o plano de reestruturação para a América do Sul, a Ford destacou o momento de transformação da indústria automotiva global, “impulsionado por novas e emergentes tecnologias em serviços conectados, eletrificação e veículos autônomos”. Citou ainda “demandas dos consumidores e itens regulatórios remodelando o mercado”. O que a direção da Ford talvez não tenha deixado claro é que a desistência de produzir no País decorre também de um fator estrutural: o sistema tributário brasileiro. Um dos itens de maior peso no custo-Brasil, esse cipoal de impostos e taxas sem fim nem fundamento prejudica a atividade econômica como um todo, drena nossa competitividade e ajuda a manter um Estado obeso e ineficiente. Infelizmente, o ministério da Economia, sob o comando de Paulo Guedes, ainda não foi capaz de desenhar uma reforma tributária que realmente corrija distorções, estimule a atividade empresarial e permita que o País retome o crescimento.
Após o anúncio do fechamento das fábricas da Ford e das demissões que virão a seguir, com o corte de mais de 5 mil empregos diretos, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Mais (DEM-RJ), enfatizou a urgência em aprovar uma reforma tributária que racionalize a cobrança de impostos e evite que mais empresas optem por abandonar o Brasil. Enquanto isso, o ministério da Economia afirmou, em nota, que a decisão da Ford “destoa da forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria”. Se houve tal recuperação, ela já passou. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice de Confiança do Empresário Industrial em janeiro de 2021 ficou em 60,9 pontos, ante 63,1 pontos em dezembro de 2020. “A queda demonstra a elevada incerteza com relação à evolução da pandemia e seu impacto na economia brasileira”, afirmou o comunicado da CNI. A entidade entrevistou 1.286 empresas de pequeno, médio e grande porte. Como se sabe, o peso e a complexidade do sistema tributário têm consequências profundas sobre o crescimento do País. Em uma economia fragilizada pela Covid-19, ainda sem perspectivas concretas de volta à normalidade e com empresas preferindo fechar as portas, o Brasil tem o dever de priorizar uma ampla reforma tributária. Se é verdade que morte e impostos são as únicas certezas que podemos ter na vida, talvez seja o caso de entender melhor até que ponto ambos se relacionam.

Celso Masson, diretor de núcleo