Dezoito migrantes subsaarianos morreram nesta sexta-feira (24) no lado marroquino da passagem fronteiriça com Melilla, em uma tentativa maciça de entrar à força neste enclave espanhol no norte da África, que acabou em um novo drama na fronteira da União Europeia (UE).

As autoridades marroquinas, que primeiro haviam informado sobre cinco migrantes mortos no tumulto, indicaram posteriormente que “13 migrantes em situação irregular na invasão contra a cidade de Melilla sucumbiram durante a noite devido aos ferimentos graves”.

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Em seu primeiro balanço, as autoridades da província de Nador assinalaram que 76 migrantes tinham ficado feridos, 13 deles com gravidade, além de 140 policiais, cinco deles em estado crítico.

Trata-se da primeira grande tentativa de entrada ilegal desde que Madri e Rabat superaram uma crise diplomática e, segundo as autoridades locais marroquinas, esteve “marcada pelo uso de métodos bastante violentos de parte dos migrantes”.

Do lado espanhol, a polícia disse à AFP que não tinha informação e recomendou que a agência procurasse seus pares marroquinos.

A delegação de governo em Melilla havia indicado que “cerca de 2.000 migrantes” tinham iniciado “uma aproximação” à cidade no início da manhã e que 133 deles conseguiram chegar à cidade “após romper com um alicate a grade de acesso do posto de controle fronteiriço”.

Além disso, reportaram que, do lado espanhol, 49 agentes da Guarda Civil sofreram ferimentos leves, enquanto 57 migrantes tiveram lesões de diversos tipos, dos quais três foram atendidos em um hospital na Espanha.

Omar Naji, da Associação Marroquina de Direitos Humanos, disse à AFP que, na noite anterior à invasão, houve “enfrentamentos” entre os migrantes e a polícia local.

– Colaboração do Marrocos –

A delegação salientou que a tentativa de invasão ocorreu “apesar do amplo dispositivo das Forças marroquinas, que colaboraram ativamente e de forma coordenada” com as espanholas, e o presidente de governo, Pedro Sánchez, agradeceu por isso, após um ano de crise diplomática.

“Quero agradecer em nome do governo da Espanha a extraordinária cooperação que estamos tendo com o Reino do Marrocos, e que demonstra a necessidade de ter a melhor das relações […] em matéria de luta contra a imigração irregular”, disse Sánchez em Bruxelas, onde participa de uma cúpula da UE.

As últimas tentativas de invasão maciça na Espanha por um de seus enclaves no norte da África (Ceuta e Melilla), aconteceram no início de março, antes do degelo das relações hispano-marroquinas.

A crise diplomática entre ambos os países começou depois que a Espanha acolheu em abril de 2021 o líder da Frente Polisário, o movimento independentista do Saara Ocidental, Brahim Ghali, para ser tratado de covid-19 em um hospital do país.

O Marrocos reivindica sua soberania sobre o Saara Ocidental, uma ex-colônia espanhola, e a crise diplomática aumentou quando a Espanha abandonou sua neutralidade histórica entre independentistas saarauís e Rabat, para respaldar o plano marroquino para o território, que consiste em dotá-lo de autonomia.

Esta mudança de postura rendeu numerosas críticas ao governo de Pedro Sánchez, e várias vozes da oposição interpretaram isso como uma concessão a Rabat para que freasse a chegada de imigrantes.

– Ceuta e Melilla, as portas de entrada da UE –

O ápice da crise hispano-marroquina ocorreu em maio de 2021, quando, se aproveitando do relaxamento dos controles por parte das autoridades marroquinas, cerca de 10.000 imigrantes entraram em Ceuta.

Apesar de Madri e Rabat terem restaurado suas relações, Pedro Sánchez avisou em junho que “a Espanha não vai tolerar a instrumentalização da tragédia da imigração irregular como arma de pressão”.

A melhora das relações com Marrocos, plataforma de saída da maioria dos imigrantes irregulares que chegam ao litoral espanhol, provocou uma redução das chegadas.

 

Assim, a quantidade de emigrantes que desembarcaram em abril no litoral do arquipélago espanhol das Canárias, o primeiro mês da volta à normalidade bilateral, já foi 70% menor que em fevereiro, segundo dados do Ministério do Interior espanhol.

Madri, que será sede da cúpula da Otan entre os dias 28 e 30 de junho, discutirá com seus aliados o tema da emigração irregular como instrumento de pressão entre países, como “ameaça híbrida”, não convencional.

Ceuta e Melilla constituem as duas únicas fronteiras terrestres entre a UE e o continente africano, e milhares e milhares de emigrantes subsaarianos sonham em alcançá-las como primeiro passo para sua instalação na Europa.