Morreu na desta sexta-feira, 15, o general de divisão reformado do Exército Newton Cruz, aos 97 anos, no Hospital Central do Exército, em Benfica, no Rio de Janeiro. O militar foi chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI), entre 1977 a 1983, e do Comando Militar do Planalto. Ele deixa quatro filhos.

Cruz será cremado neste domingo no crematório da Penitência, no cemitério do Caju, na zona norte do Rio.

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O militar nasceu em 24 de outubro de 1924, no Rio de Janeiro. Ele entrou no Exército em 1941, sendo promovido a general-de-brigada em abril de 1976. Naquele ano, Cruz foi nomeado comandante da Artilharia Divisionária, em Pouso Alegre (MG). Um ano depois, deixou o regimento de cavalaria que comandava em Minas Gerais para assumir o cargo de chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI).

Em 1983, Newton Cruz se envolveu no caso do assassinato do jornalista Alexandre von Baumgarten, ex-diretor da extinta revista “O Cruzeiro”. O “caso Baumgarten” teve início na madrugada do dia 13 de outubro de 1982, quando o jornalista e sua mulher, Jeannete Hansen, foram sequestrados no cais de embarque da praça XV de Novembro, no Rio, e levados para local ignorado. No dia 15, Von Baumgarten foi executado em Teresópolis (RJ) e a mulher dele dias depois. O corpo do jornalista apareceu semanas depois numa praia do Recreio dos Bandeirantes, na capital, com marcas de tiros, embora o laudo do Instituto Médico Legal tenha informado que a morte foi causada por afogamento.

De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), um dossiê publicado pela revista Veja mostrou que o jornalista revelou ter encontrado Newton Cruz para obter verbas para a revista, da qual era diretor. O general chegou a ter o nome envolvido como um dos responsáveis pela morte do jornalista. Ele negou seu envolvimento e afirmou ter recebido informações sobre a identidade daquele que seria o responsável pelo assassinato, sem revelar o nome,

Em agosto de 1983, Newton Cruz deixou a chefia da Agência Central do SNI e assumiu o Comando Militar do Planalto (CMP) e a 11ª Região Militar.

Há cerca de sete anos, em 2014, Newton Cruz foi apontado pela Comissão da Verdade como um dos 377 militares que cometeram crimes durante a ditadura.

Caso Riocentro

O militar foi um dos seis denunciados à Justiça por participação no atentado do Riocentro, em 1981. Os procuradores pediram uma pena mínima de 36 anos e seis meses de prisão para o ex-chefe do SNI. Na denúncia, o MPF acusa o general reformado de ter sabido do atentado com antecedência de pelo menos uma hora e não ter agido para contê-lo.

De acordo com a denúncia, os militares reformados Wilson Luiz Chaves Machado, Nilton de Albuquerque Cerqueira, Newton Cruz, Edson Sá Rocha, Divany Carvalho Barros e o ex-delegado Cláudio Antônio Guerra devem responder pelos crimes de homicídio tentado, formação de quadrilha ou bando, transporte de explosivos, fraude processual e favorecimento pessoal.

A denúncia foi elaborada pelo Grupo de Justiça de Transição do MPF. Denúncias feitas em 1981 e 1999 foram arquivadas pelo Tribunal Militar e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) porque os magistrados entenderam que os acusados seriam contemplados pela Lei da Anistia.

O Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região, no entanto, concedeu habeas corpus a quatro denunciados. O tribunal julgou que os crimes estariam prescritos.

O atentado ocorreu no dia 30 de abril de 1981, véspera do Dia do Trabalho, em um show que reuniu milhares de pessoas no Riocentro. A primeira bomba explodiu dentro de um carro no estacionamento do local, ferindo o capitão Wilson Luis Chaves Machado e matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário. Na mesma noite, outra bomba foi lançada na subestação de eletricidade do complexo com o objetivo de cortar a energia, sem causar vítimas.