Cerca de 2.000 habitantes da ilha grega de Lesbos protestaram nesta quinta-feira (27) contra a construção de novos centros de acolhimento para milhares de migrantes que estão aglomerados em acampamentos de refugiados, exigindo sua transferência para a Grécia continental.

Várias associações de comerciantes de Lesbos e sindicatos ligados ao Partido Comunista grego, que convocaram a manifestação, também pediram uma greve na ilha. Pelo segundo dia consecutivo, as lojas fecharam suas portas em protesto.

“Nem campos fechados, nem campos abertos na ilha”, diziam os manifestantes na cidade de Mitilene, em Lesbos.

Na ilha vizinha de Chios, centenas de pessoas também foram às ruas nesta quinta e continuaram a greve iniciada na quarta-feira.

O clima estava mais calmo do que no dia anterior. Ontem, mais de 60 pessoas, a maioria policiais, ficaram feridas em violentos confrontos entre agentes das forças da ordem e habitantes dessas duas ilhas do mar Egeu.

Após semanas de negociações infrutíferas com as autoridades locais, o governo enviou máquinas de construção e o Batalhão de Choque na segunda-feira, causando indignação entre os moradores e críticas da oposição de esquerda.

“Quase todas as forças policiais deixaram as ilhas na manhã desta quinta-feira”, disse à AFP o porta-voz da Polícia Thodoros Chronopoulos.

No total, “43 policiais ficaram levemente feridos em Lesbos na quarta-feira, três deles nos pés, por balas de carabina de alguns habitantes, mas estão fora de perigo”, relatou.

O porta-voz do governo, Stelios Petsas, afirmou que “a primeira fase do trabalho de nivelamento do terreno (dos novos campos) foi concluída e que a polícia retornaria” ao continente.

Em 2019, a Grécia voltou a ser a principal porta de entrada para os requerentes de asilo na Europa.

Dado o aumento no fluxo migratório, o governo conservador anunciou em novembro passado que fecharia os acampamentos de Lesbos, Samos e Chios e que os substituiria por novas instalações “fechadas” com capacidade para pelo menos 5.000 pessoas. Essa infraestrutura deve entrar em funcionamento ainda em 2020.

Mais de 38.000 demandantes de asilo vivem amontoados em condições insalubres nos campos atuais destas ilhas, que têm, em tese, capacidade para 6.200 pessoas.

Convivendo com a onda migratória desde 2015, os moradores se opõem à instalação de grandes acampamentos e preferem a construção de centros de registro com capacidade para mil pessoas. Exigem ainda que os migrantes sejam transferidos para o continente.

“A ilha se tornou uma grande prisão de migrantes. Expressamos nossa solidariedade todos esses anos, mas temos que descongestionar as ilhas”, defendeu Michael Hakas, de 47 anos, funcionário da Universidade de Mitilene, durante o protesto.

O primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis pediu “calma” e fez um apelo aos prefeitos das ilhas, assim como ao governador do Egeu do Norte, para que participem de uma reunião nesta quinta-feira à noite em Atenas. O objetivo do encontro é tentar serenar os ânimos.

“Devemos favorecer o diálogo. A guerra precisa de uma trégua”, declarou o prefeito de Chios, Stamatis Karmantzis, à rádio RealFm.

“A migração é um problema nacional e europeu, e não apenas das ilhas do Egeu”, frisou.