Monsenhor Óscar Arnulfo Romero era um arcebispo tradicional, conservador e próximo do poder, antes de se tornar o maior defensor dos marginalizados, com uma oratória que denunciava a injustiça social e desconcertava a extrema direita de El Salvador.

Defensor de uma Igreja com “opção preferencial pelos pobres”, foi declarado beato em 23 de maio de 2015.

Romero é referência para o que o papa Francisco defende: uma Igreja onde os padres abandonam o conforto das sacristias e saem em busca dos pobres em suas comunidades.

As tentativas de calar o arcebispo começaram em 18 de fevereiro de 1980, quando a rádio católica YSAX foi dinamitada.

Pouco depois, em 10 de março daquele ano, quando Romero oficiou a missa na Basílica do Sagrado Coração, foi encontrada uma pasta com 72 bananas de dinamite, o suficiente para fazer voar não só o templo, mas todo o quarteirão. O explosivo foi desativado.

Na véspera de seu assassinato, o monsenhor Romero fez um apelo dramático aos soldados para que desobedecessem as ordens de atirar contra o povo: “Peço-lhes, ordeno, em nome de Deus: parem com a repressão!”.

Na noite de 24 de março de 1980, Romero foi baleado por um franco-atirador enquanto oficiava uma missa na capela do hospital Divina Providencia, no norte de San Salvador.

O assassinato polarizou ainda mais os salvadorenhos que lutavam por melhores condições de vida e desencadearam uma guerra civil que durou 12 anos (1980-1992) e custou a vida de pelo menos 75 mil pessoas.

Os assassinos do religioso nunca foram levados à Justiça e permanecem impunes.

– Vida religiosa e conversão –

Romero nasceu em 15 de agosto de 1917 em Ciudad Barrios, uma cidade cafeeira a 156 km a nordeste de San Salvador.

Aos quatro anos de idade, ele sofreu de poliomielite, que acabou vencendo.

Em 1931, entrou no seminário de San Miguel. Em 1937, chegou ao seminário em San Salvador e, sete meses depois, viajou a Roma para estudar Teologia, onde viveu as dificuldades da Segunda Guerra Mundial. Foi ordenado sacerdote em abril de 1942.

Em 1970 foi nomeado bispo auxiliar da capital e em 1974 bispo de Santiago de María, no departamento costeiro de Usulután.

Quando convertido arcebispo em 23 de fevereiro de 1977, aos 59 anos, não havia dúvidas sobre suas tendências conservadoras. Tinha a simpatia de grandes setores financeiros e, por outro lado, não gozava da confiança do clero progressista.

O assassinato de seu amigo, o padre jesuíta Rutilio Grande, junto a dois camponeses, em março de 1977, mudou profundamente sua visão e ele adotou a denúncia da injustiça como sua bandeira.

O processo para canonizá-lo foi aberto em 1994 e enviado a Roma em 1996, onde ficou paralisado. Em abril de 2013, Francisco resolveu desarquivá-lo.

Em 3 de fevereiro de 2015, o papa assinou o decreto que o declarou mártir e, pouco depois, foi beatificado.

Neste domingo será canonizado depois que a Igreja aprovou como válido um milagre ocorrido com a salvadorenha Cecilia Maribel Flores de Rivas através da intercessão de Romero.