E se todo o chocolate do mundo acabasse? Infelizmente, esse cenário assustador é possível. Isso se deve a décadas de monocultura, que acabou por reduzir o cacau produzido no planeta a um número muito pequeno de variedades da fruta. O problema é que o surgimento de um fungo, chamado monilia, ameaça tornar inviável o seu cultivo. A doença chegou a dizimar quase por completo as fazendas cacaueiras da Costa Rica, nos anos 1970. No ano passado, o fungo foi detectado fora da América Latina pela primeira vez, na Jamaica. Especialistas temem que o mesmo aconteça no Oeste da África, de onde vem a maior parte do cacau usado pelos grandes fabricantes de chocolate, como Hershey’s, Nestlé e Mondelez.

“A indústria do cacau está correndo risco”, afirmou, em entrevista ao jornal The New York Times, o Dr. Wilbert Phillips-Mora, responsável pela maior coleção de variedades de cacau registrada no mundo, com mais de 1,2 mil espécies, que pertence ao CATIE, centro de pesquisas costarriquenho. Ele acredita que a única saída para evitar a catástrofe é aumentar a diversidade da planta, criando variedades híbridas. Um experimento recente com sementes híbridas, conduzido na América Central, no México e no Brasil, conseguiu reduzir de 75% para 5% a taxa de infecção. “Nosso objetivo não é só produzir cacau”, afirma o cientista. “Queremos dar condições básicas de vida aos pequenos fazendeiros.” Segundo Phillips-Mora, a maioria dos produtores é muito pobre, uma vez que as dificuldades de cultivar a fruta tornam o retorno financeiro lavoura muito pequeno.

 

(Nota publicada na Edição 1039 da Revista Dinheiro)