Panela elétrica, batedeira, liquidificador, cafeteira, ventilador… Quem ainda não teve em casa algum desses itens da marca Mondial, deve ter visto algum deles na cozinha de alguém. Nas últimas duas décadas, a empresa com sede em Jacuípe, no interior da Bahia, conquistou um espaço cativo no varejo voltado para consumidores das classes C e D, ao lado de marcas como Britânia, Mallory e CCE (comprada pela chinesa Lenovo em 2012 e devolvida menos de três anos depois). A companhia acelerou ainda mais sua operação a partir de 2014, quando instalou sua primeira fábrica na Zona Franca de Manaus, decisão que garantiu um crescimento médio anual de 33% em vendas – que neste ano devem superar R$ 3 bilhões, uma alta de 50% em relação a 2019 – e permitiu sua internacionalização a países da Europa, África e Ásia.

Na última semana, a Mondial deu um novo passo em sua estratégia de expansão. A fábrica da japonesa Sony, em Manaus, foi comprada pela empresa e será utilizada para produzir televisores – segmento em que a marca ainda não atua. A estratégia de expansão vai ser acelerada. “Vamos implementar em seis meses as estratégias que estavam previstas para até 2024”, afirmou à DINHEIRO Giovanni Cardoso, cofundador da Mondial.

Com a aquisição – por valor não divulgado – de área total de 55 mil m², sendo 27 mil m² construídos, a Mondial pretende também iniciar no segundo semestre de 2021 a produção de aparelhos de microondas e de ar-condicionado, além das TVs, dentro de três anos. “Vou ter uma fábrica padrão Sony, de muita qualidade e alta tecnologia, para produzir os nossos televisores”, disse Cardoso. Com a nova fábrica, os planos ficaram mais ambiciosos. A marca vai ampliar a produção da linha de áudio – principalmente de caixas acústicas -, atualmente realizada em instalação de 5 mil m² da empresa na região e que será unificada à planta recém-adquirida.

Embora a aquisição represente um aumento considerável na capacidade da Mondial, a companhia já possui uma estrutura parruda. Atualmente, mantém 3,7 mil funcionários no País, 240 deles na unidade já em funcionamento em Manaus. O plano, segundo Cardoso, é contratar outros 200 colaboradores no início das operações da nova fábrica, a partir de 1º de fevereiro de 2021, e mais 220 no segundo semestre, quando as novas linhas de produção entrarão em atividade. A ideia é chegar a dezembro com 660 empregados na planta. Já ao segmento de eletroportáteis é desenvolvido nas instalações de Jacuípe, em área total de 266 mil m², sendo 100 mil m² construídos.

EFEITO PANDEMIA A expansão dos negócios é reflexo do bom momento da companhia, apesar da pandemia. Cardoso disse que o isolamento social fez aumentar o consumo de eletroportáteis nas residências, principalmente no segmento de cozinha (batedeiras, grill e air fryer, por exemplo) com as pessoas preparando as suas refeições. “Neste período, esse consumo aumentou de 12% para 18%.” Diante da situação, e com o estoque elevado, a companhia adotou protocolos rígidos de segurança contra a Covid-19 nas fábricas e manteve a produção, inclusive com a contratação de 400 colaboradores. Assim, deve fechar o ano com 36% de participação de mercado na linha de eletroportáteis, puxada, também, pelo aumento – para 38% (no auge da pandemia) – da venda de produtos da marca em e-commerce de parceiros, como Casas Bahia, Magazine Luiza e Lojas Americanas.

A empolgação do executivo com o desempenho das vendas contrasta com a incerteza em relação à manutenção de matérias–primas. Cardoso revela dificuldades na aquisição de alguns segmentos de embalagem e de cobre, produzidos no Brasil e utilizados na fabricação de motores, em decorrência da desarticulação da cadeia produtiva durante a pandemia. Apesar disso, não acredita que possa haver desabastecimento de produtos nas lojas. “Hoje, praticamente estamos produzindo e entregando. Nosso estoque está bem baixo. Mas a nossa capacidade produtiva é alta e vamos ampliar em janeiro.”

LOGÍSTICA O principal problema acusado pela Mondial no momento é o custo logístico. A empresa fabrica 65% dos produtos comercializados, enquanto 35% são importados da China. O preço médio do contêiner proveniente da Ásia saltou de US$ 1,5 mil para US$ 4,5 mil. “Com isso, o custo de importação aumentou muito. Sem contar que estão faltando contêineres para o transporte ao Brasil.” A empresa não divulgou a média de contêineres importados mensalmente.

Cardoso revelou outros três fatores que têm impactado no preço final dos produtos: a questão cambial da China, que valorizou a sua moeda (renminbi); a alta do custo dos metais (cobre e aço, por exemplo) em virtude da escassez na cadeia produtiva; e a desvalorização de cerca de 40% do real frente ao dólar em um ano. “De uma forma geral, houve um aumento de custo de todas as cadeias produtivas. De todas as indústrias. Você tem um mercado competitivo, com uma briga grande no varejo. Talvez as empresas segurem um pouco e não repassem tudo (o custo).”