O ex-presidente egípcio Mohamed Morsi morreu nesta segunda-feira (17), após uma audiência no tribunal do Cairo – informaram à AFP fontes de segurança e judiciárias.

Segundo essas fontes, o ex-presidente, que estava preso desde julho de 2013, depôs perante o tribunal antes de desmaiar. Ele chegou a ser levado para um hospital, onde faleceu.

“Ele falou diante do juiz por 20 minutos, então, se exaltou e desmaiou. Ele foi rapidamente levado para o hospital onde morreu”, disse a fonte judicial.

Mursi, um engenheiro de 67 anos procedente de uma família de agricultores, foi o primeiro presidente egípcio eleito democraticamente por um curto mandato entre 2012 e 2013, antes de ser separado do cargo pelos militares.

O líder islamita estava preso desde o golpe sofrido no verão de 2013. Desde então, foi julgado em vários casos, incluindo um de espionagem em favor do Irã, Catar e grupos militantes, como o Hamas, em Gaza.

Ele também foi acusado de fomentar atos de terrorismo.

Ao ser consultado pela AFP, um de seus advogados, Abdelmoneim Abdel Maksud, declarou: “Não pudemos vê-lo no tribunal por causa do vidro blindado sem som. Mas outros detidos nos disseram que ele já não tinha pulso”.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan Erdogan, aliado do ex-presidente, imediatamente prestou homenagem ao colega, chamando-o de “mártir”.

“A História não esquecerá dos tiranos que o levaram à morte, prendendo-o e ameaçando executá-lo”, disse Erdogan em um discurso na televisão em Istambul.

O Partido da Liberdade e da Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, também acusou as autoridades egípcias de “lento assassinato”, denunciando as “más condições” de detenção de Mursi.

O emir do Catar também manifestou sua “profunda tristeza”.

Nas eleições presidenciais de 2012, se apresentou como o garantidor dos ideais democráticos da revolta de 2011, lançada pela juventude liberal e laica, mas à qual se juntou a Irmandade Muçulmana.

Substituto de última hora para a primeira eleição da Irmandade Muçulmana, o empresário Jairat Al Shater venceu a eleição com uma margem estreita em relação ao candidato do regime de Hosni Mubarak.

O modo de vida simples e afável de Morsi, casado e pai de cinco filhos, agradou nos primeiros meses de sua presidência. Mas rapidamente ele incomodou grande parte da população, que o acusou de ser um “fantoche” da Irmandade, ajudando-a a monopolizar o poder, sendo incapaz de restaurar a segurança ou de recuperar uma economia duramente abalada.

– Anódino e torpe –

“Ele era visto como o fantoche da Irmandade, colocando seus membros em cargos do governa, o que irritava a burocracia acima e a população”, diz Mustafa Kamel Al Sayid, cientista político.

Crises se sucederam e, um ano depois de sua eleição, em 30 de junho de 2013, milhões de egípcios tomaram as ruas para exigir sua renúncia. Seu inimigo, o ex-chefe do Exército, general Abdel Fatah Al Sissi, aproveitou a situação para justificar a destituição de Mursi três dias depois e iniciar uma violenta repressão contra seus partidários.

A polícia e soldados mataram mais de 1.400 manifestantes pró-Mursi em poucos meses. Centenas foram condenados à morte, em julgamentos em massa expeditos, descritos pela ONU como “sem precedentes na história recente”.

Depois de sua destituição, Mursi foi condenado a um total de 45 anos de prisão em dois casos: incitação à violência contra os manifestantes no final de 2012 e espionagem a favor do Catar.

Durante seus julgamentos, ele apareceu no banco dos réus atrás de vidros blindados para evitar suas ataques, o que não o impediu de se apresentar como um presidente vítima de um “golpe de Estado” militar.