Em plena época de Natal, que costuma ser festiva para os cofres da Nestlé, a empresa recebeu um autêntico presente de grego. Na semana passada, a Secretaria de Direito Econômico (SDE) divulgou relatório contrário à compra da Garoto, anunciada no início do ano. Colocou um pouco de água na champanhe da multinacional suíça. Mas enquanto o imbróglio no segmento de chocolates não se resolve ? ainda haverá muita discussão sobre o tema ? o jeito é tocar para frente os novos projetos. O principal deles já está aprovado: no próximo ano será erguida uma nova fábrica de leite condensado, somente para exportação. Mais: segundo o mercado, o País se transformaria no grande pólo de fabricação do produto, assumindo parte da produção européia. A Nestlé não dá detalhes da operação, mas o próprio presidente da subsidiária, Ivan Zurita, confirmou que a construção de uma nova unidade está prevista no orçamento de 2003, de US$ 150 milhões. Com a desvalorização do real, o produto ? feito basicamente de açúcar e leite ? ficou mais barato do que o similar europeu (que usa açúcar de beterraba). Resultado: o produto brasileiro ganhou prestígio e hoje é disputado por mais de 30 países. ?A nova fábrica tem tudo para acontecer, independentemente dos problemas com a Garoto?, diz o consultor Marcos Gouvêa de Souza, especialista em varejo.

 

As unidades da Nestlé em Araraquara (SP) e Montes Claros (MG) operam com capacidade máxima, atendendo os mercados interno e externo. Com a nova fábrica, elas serão direcionadas apenas para as vendas domésticas. Em nenhum lugar do mundo consome-se tanto leite condensado como no Brasil: são 200 mil toneladas de leite condensado por ano. Somente a Nestlé vende sete latas de Leite Moça por segundo. O produto que inaugurou os negócios de Henri Nestlé, em 1866, é hoje o carro-chefe da empresa no País. Em 2001, as vendas atingiram R$ 240 milhões ? cerca de 52% do total do mercado. O desafio da multinacional agora é repetir a façanha no campo das exportações.

?Neste ano, as vendas de produtos lácteos para o mercado externo devem crescer 112%. E o leite condensado está nesse bolo?, diz Jorge Rubez, presidente da associação brasileira dos produtores de leite. A participação do leite condensado brasileiro no mercado externo ainda é pequena ? começou timidamente no início do ano, com a Nestlé ? mas os produtores do setor estão confiantes no aumento das vendas. Em maio, cinco empresas nacionais se uniram numa trading, a Serlac, para exportação de lácteos: Itambé, Embaré, CCLE, Iupisa e Confipar. ?É uma virada. Até o ano passado éramos importadores?, diz André Mesquita, diretor da Serlac.