As bicicletas ganharam força nas ruas. Alternativas para passageiros de transporte público durante a pandemia, mais recentemente viraram rota de escape do trânsito e do preço da gasolina nas alturas. Com as vendas 50% acima dos patamares de 2019, segundo a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, e preços de até R$ 2 mil na categoria de entrada, as plataformas de compartilhamento de bikes se tornaram opções mais amigáveis para o bolso do brasileiro. Graças a esse cenário, a startup Tembici viveu o melhor mês de março da sua história, segundo o CEO e cofundador Tomás Martins. “Estamos com o maior indicador de uso do sistema”, disse.

Ele explica que a alta das assinaturas de pessoas físicas e da vertical corporativa, com o fortalecimento da agenda ESG (do inglês, ambiental, social e governança), o negócio acompanha a evolução das políticas públicas de micromobilidade. À luz do que acontece no exterior, Martins entende que o País liberou uma avenida de crescimento estratégica. “Nosso mercado é muito pequeno perto do potencial. Temos frotas de 3 mil bicicletas em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, mas o padrão fora do Brasil é de 20 mil bicicletas.”

MAIS ELÉTRICAS Com linha de montagem em Manaus, Tembici incluirá 10 mil e-bikes na frota. (Crédito:Divulgação)

Além disso, enfim chegou a hora das bicicletas elétricas por aqui, uma modalidade ainda tímida em participação na frota, mas que entrega margens melhores. No ano passado, as vendas de e-bikes bateram recorde no País, com alta de 27%. As mudanças motivaram a startup, que já vinha de olho nesse serviço, a investir na sua linha de montagem de bikes elétricas, que começa a operar em maio na Zona Franca de Manaus. A Tembici tem 16 mil bicicletas no Brasil, no Chile e na Argentina, mas a projeção é chegar a 30 mil unidades até o fim do ano, sendo que 90% da oferta seguirá concentrada no mercado brasileiro.

Das novas bicicletas, 71% serão elétricas, uma aposta possível porque as estações têm estrutura para recarga. Este ainda será o ano para acelerar a penetração na América do Sul. Depois de começar a entrada na Colômbia, pela capital Bogotá, com investimento de R$ 53 milhões, deve fortalecer a presença em cidades onde já está e talvez expandir para outras praças, como Belo Horizonte. “Temos interesse em novas operações, mas aguardamos um momento oportuno”, afirmou o CEO.

CRISE DO SETOR A plataforma sobreviveu à crise provocada pela pandemia, que acabou com operações rivais como a do Grupo Grow (Yellow e Grin), em recuperação judicial desde o ano passado. O número de assinantes na Tembici despencou no segundo trimestre de 2020, ano concluído sem avanços nos ganhos em relação a 2019. Já em 2021, a startup conseguiu retomar a expansão e encerrou com salto de 40% no faturamento (R$ 146 milhões), mas ainda 19% abaixo das projeções para o ano (R$ 180 milhões). Em 2022, a meta é dobrar a receita. A temperatura no setor retoma a possibilidade de um IPO, o que deve ficar mais para frente, já que a empresa tem conseguido atrair investimentos (na última rodada, captou US$ 80 milhões da Crescera Capital). “O IPO abre possibilidades, mas não é nosso objetivo final”, disse Martins.

O fortalecimento da frota já deve alavancar a participação de locação para usuários a 70% da receita neste ano, avanço de 15 pontos percentuais. Já as parcerias B2B, tal qual as com iFood e Itaú, devem crescer, segundo o executivo, com o aumento de agentes fazendo a entrega de última milha. “Além disso, desde o ano passado, indicamos a economia em emissões de gás carbônico com o trajeto de bike, o que nos possibilita comercializar créditos de carbono”, afirmou, complementando que a startup deve anunciar o projeto em breve. Martins acredita numa mudança sem precedentes. “Nos próximos dez anos a transformação será maior do que a dos últimos 50.”