Outubro costuma ser um mês aziago para a Bolsa de Valores de São Paulo. Dezembro, em compensação, tende a exibir excelentes valorizações. Às sextas-feiras, o pregão cai e, às segundas, sobe. Essas e outras crenças, conhecidas como anomalias no jargão financeiro, rondam o mercado acionário e acabam incluídas nas avaliações de alguns gestores na hora de decidir onde e quando investir. São comportamentos observados ao longo dos anos que, por tenderem a se repetir ou darem essa impressão, acabam transformando-se em mitos. Mas o que há de verdade por trás dessas crenças? ?Parte disso é folclore, parte é realidade?, afirma Júlio Martins, diretor da administradora carioca Prosper Gestão.

É preciso, portanto, separar o joio do trigo. Cravar que outubro é um mês ruim para os investidores da Bovespa, por exemplo, parece um tanto arriscado. A percepção de má sorte nos negócios se baseia em resultados antigos, como os de outubro de 1990, quando foi registrada queda de 32,4%, ou de outubro de 1992, quando a bolsa ficou negativa em 17,1%. É verdade também que, nos últimos dois anos, outubro se mostrou uma exceção perante as portentosas rentabilidades apresentadas nos demais meses. Mas o histórico de urucubaca acaba aí. Em 2003, para se ter idéia, o mês de outubro registrou um ganho de 12%. Ressabiados, os analistas não arriscam previsões para este ano. A expectativa é de alta volatilidade nos preços dos papéis.

Já a série de altas registrada nos meses de dezembro se mostra bem mais consistente. Um levantamento feito pela Economática mostra que, nos últimos 20 anos, o Ibovespa, principal índice da bolsa, ficou no azul em 14 deles. As exceções ocorreram, basicamente, nos anos em que a bolsa teve um desempenho excepcional. ?Nesses casos, quando há uma alta acentuada ao longo do ano, o mercado procura se antecipar para realizar os ganhos?, explica Milton Milioni, diretor da corretora Geração. Há uma explicação bastante prática para a ocorrência desse fenômeno em dezembro: garantir uma boa rentabilidade no fim do ano significa abastecer o bolso dos executivos cujas remunerações estão atreladas ao desempenho das ações em bolsa. Para os gestores de fundos, é também um prêmio extra com as taxas de performance. ?São muitos fundos deixando de vender seus estoques e conspirando para que o preço dos papéis subam?, diz um consultor especializado em estatística. A tendência, no entanto, tende a arrefecer. Até o fim de 2004, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia que regula o mercado financeiro, determinava que os balanços dos fundos fossem divulgados, obrigatoriamente, nos meses de junho e dezembro. A exigência reforçava esse movimento de alta no fim do ano. ?Hoje, as cotas são fechadas mensalmente?, lembra Martins, da Prosper Gestão.

Talvez o mito mais curioso dentre todos esses que assombram o mercado de ações seja o de que, às sextas-feiras, os pregões tendem a cair e, às segundas-feiras, abrirem a semana em alta. A lógica por trás dele é a de que os investidores se desfazem de suas aplicações na sexta-feira para se prevenirem contra alguma eventualidade que possa vir a ocorrer no fim de semana. Na segunda, retomam suas posições caso nada grave tenha acontecido. ?Tenho vários clientes agressivos que fazem isso para poderem dormir tranqüilos no fim de semana?, conta Clodoir Vieira, analista da corretora Souza Barros. Quem vendeu as ações preferenciais da GOL na sexta-feira do dia 29 de setembro, por exemplo, ganhou quase 2% de rentabilidade quando, no primeiro dia útil da semana, após o trágico acidente com o vôo 1907, o papel começou a ser negociado com deságio. Essas movimentações de curtíssimo prazo são feitas, normalmente, por tesourarias de bancos, que trabalham com grandes volumes de recursos e, por isso, tentam minimizar qualquer risco. Gestores de fundos e investidores tradicionais levam em consideração cenários econômicos de longo prazo e os fundamentos das empresas. É por isso que, na prática, a influência dessas vendas de sexta-feira não causam um impacto tão relevante no Ibovespa.