Com alegria por parte das crianças e desconfiança de pais e professores, escolas estaduais de São Paulo reabriram para aulas presenciais nesta segunda-feira, 8. As unidades foram fechadas em março do ano passado, chegaram a abrir em setembro e outubro, mas recebiam poucos alunos. Agora, terão até 35% dos estudantes, porcentual que pode aumentar nas próximas semanas.

Pela manhã, meninos e meninas testavam os protocolos sanitários na Escola Estadual Raul Antônio Fragoso, em Pirituba, que recebeu nesta segunda 121 alunos, dos 123 previstos para ir ao colégio. Um professor de Educação Física ensinava o distanciamento estendendo o braço, enquanto encaminhava os alunos de volta para a sala de aula.

Na hora do intervalo, as professoras com máscara e face shield pediam aos alunos para lavarem as mãos. As crianças abaixavam as máscaras na altura do queixo para comer, e a euforia, às vezes, dificultava o distanciamento.

Com duas máscaras de pano e face shield, o diretor Deilson Fonseca, da Escola Estadual Padre Manoel da Nóbrega, na Freguesia do Ó, garantia que os protocolos foram cumpridos. Por volta das 11h40, ele se despedia dos alunos após o primeiro dia de aulas presenciais na rede estadual.

Ele não nega ter receio do retorno, mas tenta tomar o máximo de cuidado. “Medo eu tenho, mas me cuido. E pego no pé dos professores para usarem máscaras”, disse Fonseca, enquanto um carro de som do sindicato dos professores passava pela escola chamando para a greve. Segundo Fonseca, não houve adesão à paralisação na escola onde trabalha e só docentes do grupo de risco faltaram.

Larissa, de 10 anos, comemorava a volta às aulas após 11 meses, mesmo não tendo reencontrado as amigas que ficaram em uma turma diferente do rodízio. “Foi legal. Até consegui terminar de escrever um texto”, contou.

Para garantir ocupação máxima de 35%, as escolas escalonaram os alunos. Em alguns casos, os estudantes frequentam a escola durante toda a semana e passam as duas semanas seguintes no ensino remoto. Em outros, vão à escola apenas alguns dias na semana.

O pai de Larissa não escondia o medo. “A expectativa é das piores, dado o cenário da pandemia, mas sei que a escola tem uma gestão diferenciada e montou um esquema de retorno”, falou o empresário Adailton de Castro, de 50 anos.

Na secretaria da escola, pais faziam fila às 13 horas para entender como será o retorno. Papéis em um mural indicavam a distribuição das turmas presenciais, mas Edineide da Franca, de 36 anos, não queria saber disso. “Vim aqui saber se o retorno é obrigatório porque não quero levar minha filha.”

Sophia, de 7 anos, regrediu, já não sabe mais ler um texto, e quer voltar à escola, mas a mãe, hipertensa, tem medo que a menina seja infectada com o coronavírus na escola e passe para a família. “As escolas não têm funcionários, faltam muitas coisas, não tenho garantia.”

Já Luiz Dimas, de 59 anos, foi até a escola para saber quais os dias de retorno de Clayton, de 10 anos. Segundo o pai, a aula pela internet foi difícil e o menino não conseguiu aprender muita coisa – percepção que Clayton confirma sacudindo as duas mãos, para cima e para baixo, para dizer que a aula remota foi “bem mais ou menos”.

“Quero voltar para ver meus amigos”, diz o menino, que redescobriu nesta segunda seu turno na escola, animado. “Ele tem de retornar porque em casa não acompanha as aulas pelo YouTube, mas deviam vacinar primeiro os professores”, diz o pai. “Vamos ter de entregar nas mãos de Deus.”