O míssil caiu por volta das 10h30 locais desta sexta-feira (8), momento em que centenas de pessoas comparecem todos os dias para esperar um trem para sair de Kramatorsk, no leste da Ucrânia. Dezenas delas morreram no bombardeio.

“Estou buscando o meu marido, ele estava ali, não consigo encontrá-lo”, diz, com as lágrimas nos olhos, uma mulher, que hesita em se aproximar dos corpos na estação ferroviária.

Após o ataque, o silêncio sepulcral reina sobre a estação de tijolos vermelhos e brancos. Ao seu redor, há vidros quebrados, maletas abandonadas e rastros de sangue.

Também estão os restos retorcidos do míssil, no qual está escrito, com letras brancas e em russo, “por nossos filhos”.

A frase, que remete à vingança, é usada, às vezes, pelos separatistas pró-Rússia para se referir a seus filhos mortos na guerra do Donbass, que começou em 2014.

– Ataque ‘deliberado’ –

Na plataforma, vários corpos jazem ao lado de uma bengala, e não muito longe de um coelho de pelúcia. A dois passos de onde caiu o míssil, que deixou um buraco no chão, é possível ver uma bolsa de couro e os restos de um pé.

No meio dos escombros, um policial recolhe os celulares cheios de sangue. Um deles continua tocando no vazio.

As autoridades juntam os corpos em um canto da esplanada, sob os toldos das pequenas lojas onde os passageiros costumam comprar bebidas antes de embarcar no trem.

E sob as ordens de um médico militar, soldados e policiais retiram os corpos em um caminhão do exército. Alguns dos sacos com cadáveres não pesam, são necessários apenas dois homens para carregá-los, o que nos faz pensar que, em seu interior, há corpos de crianças ou apenas partes de cadáveres.

“Vi uns 15 feridos, mas é difícil dizer quantos havia, muitos foram evacuados imediatamente em carros para os hospitais”, explica um voluntário que, antes do ataque, estava ajudando a organizar o fluxo de famílias na estação.

Segundo o governador da província de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, ao menos 50 pessoas morreram, entre elas cinco crianças. O diretor da companhia ferroviária ucraniana Ukrzaliznytsia, Oleksandre Kamyshin, denuncia que o ataque foi “deliberado”.

Uma hora antes do ataque, centenas de pessoas, entre elas idosos, mulheres e crianças, aguardavam na fila para deixar a região.

Nos últimos dias, milhares de pessoas foram retiradas em trens para regiões mais seguras do país diante da possibilidade de uma nova ofensiva russa.

Há dias, as autoridades ucranianas pedem à população que deixe a região do Donbass que ainda está sob controle ucraniano e da qual Kramatorsk é a capital.

Mas, mesmo assim, para o exército russo, que denuncia uma provocação por parte de Kiev, “o objetivo deste ataque orquestrado pelo regime de Kiev […] era impedir que a população civil saísse” da cidade.

– ‘Dupla explosão’ –

No meio da desolação, Natalia procura por sua bolsa e seu passaporte. “Tinha muita gente na estação e na frente dela. Eu estava no interior, ouvi algo como uma dupla explosão, me joguei contra um parede para me proteger”, conta.

Ela tem dificuldade de falar e, junto de um policial, caminha rapidamente, tentando evitar o sangue espalhado pelo chão e que está por todos os lados.

“Depois, vi gente entrando coberta de sangue na estação, corpos por todas as partes no chão, não sei se estão feridos ou mortos. Os soldados se apressaram para pedir que deixássemos a estação, deixei tudo aqui”, lembra.

No terreno em frente ao edifício, uma fita policial impede que as pessoas se aproximem demais dos restos retorcidos de um grande míssil.

“Era um míssil Tochka, uma bomba de fragmentação”, garantiu à AFP um agente de polícia no local dos fatos. “Ela explode em várias direções, sobre uma superfície do tamanho de um campo de futebol”, afirmou.

Com base no sangue espalhado pelo chão e nos testemunhos recolhidos no local dos fatos, as vítimas foram atingidas em diversos lugares da estação, na plataforma adjacente à principal e em sua praça.