A Flórida teve um dia nublado nesta terça-feira (26), véspera do lançamento previsto de um foguete da SpaceX com dois astronautas a bordo, na missão mais perigosa e de alto nível já confiada pela Nasa a uma empresa privada.

Apesar das condições climáticas adversas nesta região do sudeste dos Estados Unidos, as previsões meteorológicas para a hora do lançamento são 60% favoráveis, segundo o último boletim para Cabo Cañaveral.

Após cumprirem uma quarentena estrita de dois meses, Bob Behnken e Doug Hurley vão tripular a cápsula Crew Dragon, que será lançada por um foguete Falcon 9, da SpaceX, empresa fundada em 2002 pelo visionário Elon Musk.

Criador dos carros elétricos Tesla, Musk fez fortuna com o PayPal e, obcecado com Marte, não hesitou em se lançar na corrida espacial.

O destino: a Estação Espacial Internacional (ISS), que orbita a 400 km sobre o nível do mar, a 27.000 km/h.

Para os Estados Unidos, o êxito desta missão será motivo de orgulho nacional, pois desde o último voo de um ônibus espacial, em 2011, o país recorre a foguetes russos para viajar ao espaço, tendo perdido sua autonomia.

Nem a pandemia de COVID-19, nem o confinamento imposto para evitar a propagação da doença representaram um freio ao lançamento.

O presidente americano, Donald Trump, assistirá à aguardada decolagem, sendo o terceiro mandatário em atividade a acompanhar um voo tripulado, depois de Richard Nixon e Bill Clinton.

“Toda a América terá a oportunidade de ver o nosso país fazer algo incrível novamente”, disse nesta terça-feira o administrador da Nasa, Jim Bridenstine.

A agência espacial americana ressuscitou uma logo apelidada de “o verme”, utilizada na década de 1970, que adornará com suas linhas vermelhas o foguete, um sinal da nostalgia da potência e da corrida pela conquista do espaço.

A SpaceX entrou para a História ao se tornar a primeira companhia a acoplar uma cápsula com provisões para a ISS em 2012. Dois anos depois, a Nasa ordenou avançar para o envio de astronautas, adaptando a cápsula Dragon para o transporte de passageiros.

Assim, colaborou com o sonho original de Musk: “colocamos janelas na versão de carga da Dragon”, lembrou na segunda-feira o alemão Hans Koenigsmann, vice-presidente da SpaceX.

“Fundamos (a empresa) com a ideia do voo espacial humano”, acrescentou, emocionado.

– Atrasos –

O programa, no qual a Nasa investiu mais de 3 bilhões de dólares, está atrasado em três anos. A Boeing está construindo em separado a cápsula Starliner, com um atraso ainda maior.

Depois de um voo bem sucedido de testes não tripulado no ano passado, uma cápsula Crew Dragon explodiu durante um teste em solo dos propulsores. O desenvolvimento dos quatro grandes paraquedas da cápsula de retorno também experimentou alguns contratempos.

Mas depois de milhares de revisões, a Nasa acredita estar pronta para levar dois de seus astronautas na parte superior de um foguete de 500 toneladas cheio de combustível.

“Nunca nos sentimos confortáveis porque é aí que a gente deixa de se fazer perguntas”, disse Kathy Lueders, chefe do programa comercial de voos tripulados da Nasa. “Ficaremos alerta até que Bob e Doug retornem para casa”, acrescentou.

– Convidados russos –

O clima continua sendo a única variável incontrolável. Mas “a tendência é boa”, destacou Bridenstine, apesar da chuva que o obrigou a dar uma coletiva de imprensa em área coberta e não em frente ao grande relógio que faz a contagem regressiva.

A decisão de adiar o lançamento pode ocorrer até 45 minutos antes do lançamento, previsto para as 16h33 locais (17h33 de Brasília). As próximas janelas em potencial de lançamento serão no sábado e no domingo.

Uma vez em órbita, a cápsula com Doug Hurley e Bob Behnken vai demorar 19 horas para se acoplar à estação. Os astronautas poderiam ficar ali até o começo de agosto.

A viagem de retorno será como a das cápsulas da Apolo: cairá no mar, neste caso no oceano Atlântico, em frente à costa da Flórida.

Se a missão for exitosa, começarão voos tripulados regulares. Já está prevista para o fim de agosto a viagem de três americanos e um japonês para a ISS. Nas próximas missões, sócios europeus e canadenses serão convidados.

Os russos, que construíram a ISS em conjunto com os americanos, acordaram manter sua antiga associação espacial, que “realmente está acima da geopolítica terrestre”, segundo Bridenstine.