Em 2005, o Google comprou, por um valor não revelado, uma pequena empresa que pouco chamou a atenção dos especialistas. A Android Inc. era uma startup surgida em Palo Alto, no coração do Vale do Silício, que desenvolvia um software para celulares e que tinha entre seus líderes o americano Andy Rubin. Doze anos depois, o sistema operacional Android se tornou onipresente no mundo dos smarpthones. Estima-se que 86 em cada 100 aparelhos do mundo rodam o programa que é reconhecido por um robô verde.

Rubin, o pai da criatura, no entanto, deixou Google em outubro de 2014. Agora, ele está de volta ao mercado. Sua nova tacada é bastante ambiciosa. O empreendedor criou a Essential, uma fabricante de smartphones para enfrentar a Samsung e a Apple. “Uma das razões porque criei a Essential é que não estava feliz com os smartphones, especialmente os que rodam Android”, disse Rubin, em maio deste ano, quando deu detalhes sobre sua nova empresa e de seu aparelho. “Temos uma rara oportunidade em razão da saturação do mercado.”

Na linha de produção: os primeiros modelos do PH-1, da Essential, devem chegar ao mercado nesta semana nos EUA

A Essential nasce com muito dinheiro para investir. Os primeiros a apostar na nova companhia de Rubin foram os fundos de private equity Redpoint e a Playground, do próprio criador do Android. Ambos investiram US$ 30 milhões na startup no ano passado. No começo de agosto, a companhia recebeu um cheque e tanto. A Amazon e a chinesa Tencent, em conjunto com Acess Technology Venture, aportaram US$ 300 milhões na Essential. Sem mesmo colocar no mercado um único aparelho, a companhia já vale mais de US$ 1 bilhão, segundo estimativas dos analistas. Tanto otimisto é fácil de ser entendido. “Rubin é o criador do Android e da Danger, uma das poucas empresas que assustaram Steve Jobs”, afirma Rob Enderle, analista da consultoria de tecnologia Enderle Group, referindo-se a empresa que desenvolvia plataformas móveis.

A missão de Rubin, no entanto, não será fácil. Seu objetivo é enfrentar Samsung e Apple, os dois líderes do mercado global de smartphones. Será uma tarefa impossível? “Há muita oportunidades no mercado de celulares”, afirma Tuong H. Nguyen, analista da consultoria americana Gartner. “Das cinco maiores empresas de smartphones, três delas são chinesas, sendo que duas são novas na área.” Nguyen refere-se às chinesas Oppo e à Vivo, que detém 8,1% e 6,8% do mercado global de celulares inteligentes no primeiro trimestre de 2017. O analisa conclui: “Isso mostra que o mercado é ainda muito competitivo e dinâmico.”

A Essential, no entanto, já enfrenta problemas. O principal deles é o calendário de lançamento do PH-1, o seu primeiro smartphone. A primeira data era junho deste ano. Ela foi postergada. Provavelmente nesta semana, os primeiros aparelhos chegarão ao mercado. O aparelho também não empolgou. E, apesar das críticas de Rubin, roda o Android. Sua grande novidade é ter um corpo de titânio, metal usado em naves espaciais, sem trazer nenhuma grande inovação que salte aos olhos. A Essential também planeja contar com um equipamento de som inteligente, que concorra com o Alexa, da Amazon, e o Home, do Google. Rubin desenvolve um sistema operacional de código aberto para as casas. O empreendedor popularizou os smartphones com o Android, que se tornou uma opção barata e inovadora em relação aos aparelhos da Apple. Agora, quer enfrentar os gigantes que ajudou a criar. Será uma missão impossível?