Quatro dias depois do pior naufrágio de migrantes no Canal da Mancha, entre França e Reino Unido, as autoridades europeias se reúnem na cidade francesa de Calais (norte) para reforçar a luta “contra as redes de traficantes de pessoas”, sem os britânicos, excluídos pelo governo de Paris.

Essa reunião intergovernamental de trabalho começará às 11h00 (horário de Brasília) na cidade portuária de Calais, e reunirá os ministros responsáveis por Migração da Alemanha, Holanda, Bélgica e França, assim como a comissária de Assuntos Internos da União Europea e as agências europeias de polícia Europol e de controle de fronteiras Frontex.

O encontro busca “combater a imigração clandestina e as redes de traficantes de pessoas”, segundo a nota de imprensa do ministro francês do Interior, Gerald Darmanin, enviada no sábado. Trata-se de reforçar “a cooperação operacional na luta contra os traficantes, já que são redes internacionais que operam em diferentes países europeus”, segundo fontes próximas ao ministro.

A reunião não contará com a parte britânica, que está na linha de frente: Darmanin anulou na sexta-feira a participação de sua homóloga Priti Patel como resposta a uma carta enviada na quinta-feira por Boris Johnson e publicada no Twitter, na qual pedia a Paris que se responsabilizasse pelos migrantes que chegaram ao Reino Unido procedentes das costas francesas.

Em uma mensagem a Patel, Darmanin afirmou estar “decepcionado” com as exigências do primeiro-ministro britânico e considerou que foi “ainda pior” que tenham sido publicadas. O presidente francês Emmanuel Macron culpou Johnson pelos seus métodos “pouco sérios”.

A ministra britânica contestou no Twitter, dizendo que terá “conversas urgentes com seus homólogos europeus” na semana que vem.

“A morte dessas 27 pessoas deve ser um apelo claro à cooperação”, disse em artigo publicado pelo tablóide The Sun.

Neste domingo, o papa Francisco expressou sua “dor” pelos migrantes mortos no naufrágio e por aqueles bloqueados na fronteira bielorrussa ou que se afogam no Mediterrâneo e rejeitou “qualquer tipo de instrumentalização”.

“Sinto muito (…) pelos que morreram no Canal da Mancha; os que estão nas fronteiras de Belarus, muitos deles crianças; os que se afogam no Mediterrâneo”, declarou o papa durante seu angelus dominical na praça de São Pedro no Vaticano.

– Apenas dois sobreviventes –

O naufrágio, que custou a vida de 27 pessoas na quarta-feira, é o pior drama migratório no Canal da Mancha, convertido em uma rota com passagens diárias de migrantes a bordo de embarcações muito frágeis.

As travessias aumentaram a partir do fechamento em 2018 do porto de Calais e do Eurotunel para os migrantes, que aproveitavam esses pontos para se esconderem a bordo de veículos e tentarem alcançar a costa britânica.

Segundo os socorristas, os migrantes tentaram cruzar o Canal a bordo de um “long boat”, um barco inflável de fundo macio e dois metros de comprimento, cujo uso está aumentando desde o verão.

Apenas um iraquiano e um somaliano foram resgatados com vida.

No sábado, o vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, afirmou que era competência do Reino Unido resolver seus problemas migratórios.

“Deixaram a União Europeia” e, consequentemente, “devem decidir agora como organizar a gestão do controle de suas fronteiras”, afirmou Schinas.

Londres acusa Paris de não fazer o necessário para deter essas travessias de migrantes.

Mas o ministro do Interior francês Darmanin afirma que nos dez primeiros meses do ano 30 redes de traficantes foram desmanteladas, em comparação com 22 em todo 2020, e 1.500 membros dessas redes foram detidos.

No entanto, a pressão migratória continua e a Alemanha começa a ser vista como uma base de operações de traficantes.