“Eu não tenho problema em demitir ninguém. Se precisar, eu demito.” Dita na segunda-feira 20, a frase de Bolsonaro aumentou a tensão nos corredores da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O chefe do Executivo não está apenas querendo asfastar quem incomoda. Quer liberar cargos do primeiro escalão aos deputados e senadores do centrão com o objetivo de obter apoio no Congresso. A troca de Luiz Henrique Mandetta por Nelson Teich na Saúde não significa apenas uma nova estratégia no combate à Covid-19. Ela foi também uma sinalização. Para que a mensagem fique ainda mais clara, Bolsonaro tem mantido outros nomes na frigideira. A lista da semana inclui os ministros Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia, Inovação e Telecomunicações) e até o popular Sergio Moro (Justiça e Cidadania).

Os motivos para uma eventual saída são diferentes em cada caso. Ainda que o astronauta brasileiro tenha se mostrado menos afeito aos holofotes (ele só apareceu para falar de um suposto medicanto que poderia ser usado no tratamento da Covid-19), sua vaga estaria ameaçada por uma eventual alianca de Bolsonaro com o PSD de Gilberto Kassab, que já ocupou o cargo. Moro, por dua vez, tem trânsito limitado no Congresso. Sua única proposta enviada ao Legislativo, o projeto de Lei Anticrime, escancarou a falta de articulação do ex-juiz da Lava Jato na negociação com parlamentares. Há ainda uma questão de âmbito doméstico e bastante sensível para o presidente no que diz respeito à Justiça: o avanço das investigações que envolvem seus filhos Carlos, Eduardo e Flávio. Os três estão na mira de investigações. Fontes ligadas ao Ministério da Justiça afirmam que há “pressão indireta” para que Moro alivie as investigação.

Sérgio Moro Titular da Justiça tem sido pressionado para aliviar investigações dos fillhos de Bolsonaro. (Crédito: Jorge William)

MILITARES A pressão de Bolsonaro na Esplanada também ficou evidente na última semana, quando o general Eduardo Pazuello foi formalizado como o número dois da pasta da Saúde, o que não deixa dúvidas sobre a limitada autonomia do ministro Nelson Teich.

No momento mais desafiador para o governo Bolsonaro até aqui, em que a pandemia se impõe como fogo sobre sua capacidade de coordenar os esforços para lidar com a saúde pública e com o os impactos econômicos, os 22 ministros deveriam funcionar como “braços direitos” do chefe da Nação. Bolosnaro, porém, parece preocupado em isolar o capital político e técnico de seus subordinados, atribuindo aos militares a função de aconselhar e guiar um presidente sabidamente instável.