24/04/2020 - 10:00
“Eu não tenho problema em demitir ninguém. Se precisar, eu demito.” Dita na segunda-feira 20, a frase de Bolsonaro aumentou a tensão nos corredores da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O chefe do Executivo não está apenas querendo asfastar quem incomoda. Quer liberar cargos do primeiro escalão aos deputados e senadores do centrão com o objetivo de obter apoio no Congresso. A troca de Luiz Henrique Mandetta por Nelson Teich na Saúde não significa apenas uma nova estratégia no combate à Covid-19. Ela foi também uma sinalização. Para que a mensagem fique ainda mais clara, Bolsonaro tem mantido outros nomes na frigideira. A lista da semana inclui os ministros Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia, Inovação e Telecomunicações) e até o popular Sergio Moro (Justiça e Cidadania).
Os motivos para uma eventual saída são diferentes em cada caso. Ainda que o astronauta brasileiro tenha se mostrado menos afeito aos holofotes (ele só apareceu para falar de um suposto medicanto que poderia ser usado no tratamento da Covid-19), sua vaga estaria ameaçada por uma eventual alianca de Bolsonaro com o PSD de Gilberto Kassab, que já ocupou o cargo. Moro, por dua vez, tem trânsito limitado no Congresso. Sua única proposta enviada ao Legislativo, o projeto de Lei Anticrime, escancarou a falta de articulação do ex-juiz da Lava Jato na negociação com parlamentares. Há ainda uma questão de âmbito doméstico e bastante sensível para o presidente no que diz respeito à Justiça: o avanço das investigações que envolvem seus filhos Carlos, Eduardo e Flávio. Os três estão na mira de investigações. Fontes ligadas ao Ministério da Justiça afirmam que há “pressão indireta” para que Moro alivie as investigação.
MILITARES A pressão de Bolsonaro na Esplanada também ficou evidente na última semana, quando o general Eduardo Pazuello foi formalizado como o número dois da pasta da Saúde, o que não deixa dúvidas sobre a limitada autonomia do ministro Nelson Teich.
No momento mais desafiador para o governo Bolsonaro até aqui, em que a pandemia se impõe como fogo sobre sua capacidade de coordenar os esforços para lidar com a saúde pública e com o os impactos econômicos, os 22 ministros deveriam funcionar como “braços direitos” do chefe da Nação. Bolosnaro, porém, parece preocupado em isolar o capital político e técnico de seus subordinados, atribuindo aos militares a função de aconselhar e guiar um presidente sabidamente instável.