O ministro israelense da Defesa, Avigdor Lieberman, anunciou nesta quarta-feira (14) sua renúncia e pediu eleições, um dia depois de um polêmico acordo de cessar-fogo com grupos palestinos na Faixa de Gaza, defendido pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

O ministro ultranacionalista denunciou à imprensa o cessar-fogo como uma “capitulação ao terrorismo” e pediu eleições antecipadas antes do final da legislatura, prevista em novembro de 2019.

Um porta-voz do Likud, o partido de direita de Netanyahu, declarou nesta quarta-feira à noite em um comunicado que Lieberman ainda não havia enviado sua carta de renúncia. “O primeiro-ministro vai continuar suas consultas esta noite e amanhã (quinta-feira)”. O Likud negou ainda que Netanyahu já tenha tomado uma decisão sobre a composição de sua futura coalizão ou sobre possíveis eleições antecipadas, sem dar mais detalhes.

Lieberman anunciou a retirada do pequeno partido que lidera, Israel Beiteinu, com seis assentos no Parlamento, da coalizão do governo, teoricamente deixando o primeiro-ministro com uma maioria parlamentar de apenas um deputado.

Desde quarta-feira, Netanyahu iniciou conversas com os chefes do Likud e de outras organizações aliadas a fim de “estabilizar” a coalizão, segundo um responsável que permaneceu no anonimato.

No entanto, a maioria dos comentaristas não aposta demais nesses esforços, e confia em eleições antecipadas, no ar há meses.

Um funcionário do Likud disse que Netanyahu assumiria a pasta da Defesa e considerou que as eleições antecipadas não eram necessárias.

Enquanto isso, um responsável do partido nacionalista religioso judeu Foyer disse que a pasta de Defesa deve recair sobre o ministro da Educação, Naftali Bennett, chefe do partido. Caso contrário, a coalizão acabou, disse.

O primeiro-ministro tem o poder de dissolver um Parlamento hostil, em cujo caso os eleitores teriam que ser chamados às urnas em 90 dias.

O movimento islamita Hamas qualificou em uma declaração de “vitória política para Gaza” a renúncia do ministro da Defesa de Israel. E, em caso de convocarem eleições, não hesitaria em dizer que fizeram o governo israelense cair.

– Pior escalada desde 2014 –

Ao menos 14 palestinos morreram em bombardeios aéreos israelenses nos últimos dias. Os confrontos custaram a vida de um oficial israelense e de um palestino que trabalhava em Israel, vítima de foguetes palestinos.

Foi um dos piores confrontos entre os dois lados desde a guerra de 2014, até que um cessar-fogo foi anunciado na terça-feira sob os auspícios do Egito.

Nesta quarta-feira, a vida recuperava seu curso na Faixa de Gaza, devastada por guerras, pobreza, penúrias e desemprego, segundo constatou um jornalista da AFP.

Do lado israelense, todas as restrições às atividades foram suspensas nas cidades periféricas de Gaza, onde os disparos de foguetes forçaram os moradores a se protegerem em abrigos.

O Hamas e seus aliados tentaram transmitir uma mensagem de sucesso. Após o anúncio da trégua, milhares de moradores de Gaza participaram de manifestações de alegria para proclamar “a vitória contra Israel”.

O contraste era visível do outro lado da fronteira. Muitos dos israelenses da “periferia” submetida aos foguetes palestinos expressaram seu ressentimento contra o governo que, segundo eles, deveria atingir mais duramente os grupos palestinos.

Centenas de israelenses protestaram na terça-feira à noite em Sdérot, município vizinho de Gaza, contra o fato de o governo deixá-los à mercê de novos ataques palestinos ao invés de atacar o Hamas.

– Evitar a escalada –

Apesar de meses de persistentes tensões ao longo da fronteira de Gaza, o primeiro-ministro israelense optou por um trégua ao invés de uma escalada, pois não havia mais opções, segundo os comentaristas.

Netanyahu preferiria conter o Hamas em vez de tentar eliminá-lo, pois a destruição do movimento islamita deixaria um vazio na Faixa de Gaza, e seria impossível para Israel garantir a segurança em um território do qual se retirou em 2005, indicam estas fontes.

Durante uma reunião com seu gabinete de segurança, responsáveis do Exército e de todos os serviços afins defenderam um cessar-fogo, segundo a imprensa israelense. Netanyahu endossou essa decisão sem submetê-la ao voto do gabinete.