O ministro francês do Interior, Gérard Collomb, defendeu nesta segunda-feira (23) seu papel no “caso Benalla”, avaliando que cabe à Presidência, e não a ele, recorrer à Justiça, após a divulgação de um vídeo envolvendo um funcionário do alto escalão do governo Macron.

Em audiência pública, Collomb disse que seu chefe de gabinete o informou em 2 de maio, no dia seguinte aos fatos, da existência de um vídeo de Alexandre Benalla vestido de policial, agredindo manifestantes. Disse, porém, que não cabia a ele recorrer à Justiça.

“Não cabe ao ministro fazê-lo”, frisou.

“Me indicaram informar o chefe da Polícia e a Presidência, o que era apropriado, já que cabe à autoridade hierárquica tomar todas as medidas necessárias, no plano administrativo, ou legal”, disse Collomb aos deputados reunidos em uma comissão de investigação.

Ele acrescentou não ter tratado diretamente desse caso com o presidente Emmanuel Macron, que ainda não se manifestou.

Hoje, em entrevista à rádio RTL, o porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, limitou-se a declarar que Macron está “extremamente determinado a que a verdade possa ser estabelecida” no caso Benalla.

O agora ex-colaborador do presidente denunciou hoje “a utilização midiática e política” de sua intervenção em 1º de maio, em Paris. Segundo ele, em um comunicado divulgado por seus advogados, sua única vontade era “ajudar” os policiais no confronto com os manifestantes.

Na mesma nota, publicada pela emissora LCI/TFI, Alexandre Benalla alegou ter observado, na citada data, “dois indivíduos particularmente virulentos” e quis ajudar “a dominar essas pessoas”, como autoriza, ainda segundo o texto, “um artigo do Código de Procedimento Penal”.

– Agressão a manifestantes

O caso de Alexandre Benalla veio à tona na semana passada, depois que o jornal “Le Monde” divulgou um vídeo, no qual se vê este funcionário, equipado com um capacete da Polícia, agredindo um manifestante que já estava no chão.

Um segundo vídeo, publicado na sexta-feira, mostra com mais detalhe esse responsável pela segurança de Macron agarrando uma jovem pelo pescoço e, depois, segurando um rapaz durante uma manifestação em Paris.

Benalla foi o responsável pela segurança de Macron durante a campanha eleitoral, antes de ser nomeado “chefe de missão” na Presidência.

A polêmica não para de crescer desde a semana passada, o que pode levar a um escândalo de Estado e acabar com a promessa de uma “República exemplar” feita por Macron. Seu silêncio após a explosão do caso foi bastante criticado.

– Macron anula visita ao Tour de France

A oposição acusa o governo Macron de querer acobertar Benalla e Vincent Crase, um funcionário do partido presidencial LREM, que também aparece nos vídeos agredindo manifestantes.

Ambos foram indiciados no domingo pela Justiça, sob a acusação de “violência em reunião”. Também foram acusados três policiais por terem transmitido a Benalla imagens de câmeras de segurança.

A cada dia, surgem novas revelações sobre os privilégios desfrutados por Benalla que, aos 26 anos, era adjunto ao chefe de gabinete da Presidência, ocupava-se de tarefas de segurança, contava com um gabinete no Eliseu, além de credenciais de acesso à Assembleia Nacional.

Segundo o semanário Le Journal du Dimanche, Emmanuel Macron falou por telefone com Benalla – demitido na sexta -, depois da revelação do Le Monde.

Na quinta-feira, um porta-voz da Presidência afirmou que, depois de 1º de maio, Benalla foi “despojado de suas funções em matéria de organização de segurança dos deslocamentos do presidente”. Ainda assim, o próprio aparece em várias imagens recentes, acompanhando Macron, ou o casal presidencial.

“O Eliseu deve dar uma explicação”, disse nesta segunda-feira o líder da extrema direita, Marine Le Pen, que considerou que a Presidência pode ter querido acobertar os fatos. Já o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, considerou que o caso está “no nível do Watergate”.

O chefe da Polícia de Paris, Michel Delpuech, comparecia diante da comissão esta tarde.

Em paralelo à investigação parlamentar, uma investigação administrativa foi aberta. A Inspetoria de Polícia deve entregar um informe até o fim da semana.

Macron cancelou hoje a visita que faria na quarta-feira ao Tour de França, anunciou o Eliseu, negando, porém, qualquer relação entre esta decisão e o “caso Benalla”.