O que era conversa de bastidores em Brasília e no coração financeiro de São Paulo se tornou um inquérito. Nesta quinta-feira (16) ficou confirmado que a Procuradoria da República no Distrito Federal (DF) está investigando o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, pelo uso do cargo para pressionar empresários e lideranças da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Segundo o Ministério Público, a ação de Guimarães pode ser considerada um ato de improbidade administrativa e indica
“possível politização da instituição financeira, afetando a governança e a credibilidade de sua atuação”.

Bolsonaro diz que presidente da Caixa está ‘abismado’ com corrupção encontrada

Recordando. Os dias que antecederam o feriado de 7 de Setembro foram agitados. Lideranças do empresariado e do sistema financeiro discutiam se deveriam ou não sinalizar seu descontentamento com o governo de Jair Bolsonaro. As ameaças insistentes do presidente da República ao Judiciário aumentavam o risco de uma ruptura institucional, que poderia ter consequências catastróficas sobre os negócios. Os banqueiros lideraram a insatisfação. Além do risco de
descontrole fiscal, se queixavam das mudanças na regulamentação do setor. Impostas à força pelo Banco Central (BC), elas vão aumentar a concorrência no sistema e pressionar para baixo as margens de lucro. Daí a iniciativa de publicar uma carta conclamando à harmonia entre os Poderes. Para dar a
ela um ar mais institucional, a opção foi que ela fosse assinada pela Febraban e em conjunto com a Fiesp.

Nesse momento, segundo o inquérito, Guimarães entrou em campo para pressionar a entidade, ameaçando desligar a Caixa da Federação, o que seria repetido pelo Banco do Brasil. Os dois bancos federais representam cerca de 22% das receitas da entidade, que também intermedia as conversas técnicas com o Banco Central para implementar mudanças no sistema. Nos bastidores, Guimarães também teria advertido os banqueiros que a assinatura no documento poderia afastá-los de negócios com o governo, como por exemplo as lucrativas aberturas de capital de estatais prometidas para o ano que vem.

A investigação do Ministério Público foi determinada no último dia 2 pelo procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, que disse ver indícios de improbidade administrativa e crime de ameaça por parte de Guimarães. A apuração foi incluída no inquérito civil em andamento que apura os padrões de governança e de compliance adotados pelo banco. Procurada, a Caixa não comentou.