Para quem gosta de adrenalina, a trajetória do setor de eletrodomésticos no País nos últimos anos renderia uma boa história de ação. De 2015 a 2018, quedas recordes de vendas e produção abalaram as empresas. Em 2019, as vendas começaram fracas, surpreenderam positivamente no segundo semestre e cresceram de maneira impressionante nos três meses finais. O setor de linha branca, que representa o segmento de máquinas de lavar, refrigeradores e fogões, fechou o ano com crescimento de 7,8%, resultado muito comemorado depois de ter crescido em 2018 apenas 1% — num ano de alta de 1,1% do PIB —, segundo Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).

Líder do setor, a Whirlpool teve razões a mais para celebrar. Dona das marcas Brastemp, Consul e Kitchen Aid, a companhia de origem americana contabilizou no Brasil receita de R$ 7,74 bilhões no ano passado, alta de 17,1% sobre um ano antes. O lucro líquido avançou 292%, depois da venda da fabricante de compressores Embraco, e atingiu R$ 734,2 milhões. No embalo dos bons resultados, as despesas operacionais caíram de R$ 737,8 milhões, em 2018, para R$ 600,2 milhões, em 2019, em razão do resgate de créditos de impostos a recuperar (PIS e Cofins) conquistado em processos judiciais. Entre outubro a dezembro, as vendas atingiram R$ 2,7 bilhões, aumento de 36%. “O mercado estava reagindo muito bem. Encerramos 2019 com dados muito positivos, mas ainda no mesmo patamar de 2011”, disse o presidente da Whirlpool na América Latina, João Carlos Brega, que comanda uma companhia com 108 anos de história e 68 anos no Brasil.

João Carlos Brega Empresa: Whirlpool Cargo: Presidente na américa Latina Principal realização da gestão: Promover o crescimento da companhia muito acima da média do mercado e trazer novas tecnologias para seus produtos.

Neste ano, no entanto, a crise causada pela pandemia gerou um clima de altos e baixos para a Whirlpool. O susto inicial, com fechamento do comércio e suspensão das principais atividades econômicas, deu lugar a um crescimento da demanda por renovação de eletrodomésticos e aquecimento do varejo com a injeção dos bilhões do coronavoucher. “Atualmente, estamos vivendo um momento muito bom. Resta saber se é um ciclo sustentável”, afirmou. Umas das explicações para esse ciclo é a incorporação de novas tecnologias em seus produtos. Anualmente, são investidos de 3% a 4% do faturamento em inovação. No Brasil, a companhia dispõe de quatro centros de tecnologia e 23 laboratórios de P&D, o que garante o lançamento de cerca de 200 novidades por ano. As grandes apostas mais recentes são a lavadora Double Wash Brastemp, com dois cestos independentes e que lava diferentes tipos de tecidos e cores ao mesmo tempo — a primeira Top Load (abertura superior) no mundo a lavar roupas de cores e tecidos diferentes ao mesmo tempo —, a geladeira 3-Doors Brastemp, equipada com três compartimentos independentes, a cervejeira smart Beer Consul e a Blend, primeira máquina de bebidas all-in-one do mundo a oferecer mais de 10 diferentes tipos de categorias e 20 sabores ao toque de um botão. O produto ainda funciona como purificador de água, oferecendo também água gaseificada. “Nossos produtos são muito mais do que equipamentos domésticos e isso ficou mais claro na pandemia. Não fazemos apenas geladeira, criamos soluções em armazenamento de alimentos.”

“Nossos produtos são muito mais do que equipamentos domésticos e isso ficou mais claro na pandemia. Não fazemos apenas geladeira, criamos soluções em armazenamento de alimentos” João Carlos Brega, presidente da Whirlpool na América Latina.

Além do auxílio emergencial e da reabertura do comércio, um fator decisivo para a expansão foi a mudança no perfil do consumidor dos brasileiros. Com mais tempo em casa, as famílias aumentam seus investimentos em eletrodomésticos e eletrônicos. Entre os produtos com mais saída, se destacaram as Smart TVs, forno de micro-ondas e lavadoras. Segundo a consultoria GfK, as vendas de TVs desta categoria aumentaram 32% no primeiro semestre de 2020, em comparação com a primeira metade de 2019. Em julho, pelos cálculos da consultoria, o faturamento do varejo com vendas de eletrodomésticos cresceu 49,5% e de eletrônicos avançou 32,3% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Apesar da boa performance, o setor ainda vê com cautela os próximos meses. O fim do pagamento do auxílio emergencial, sem recuperação rápida da economia, pode esfriar o ritmo do consumo. A associação Eletros diz esperar, por outro lado, que a Black Friday e o Natal impulsionem as vendas neste ano e que, no geral, será um ano de perdas moderadas.

As melhores

1. WHIRLPOOL 436,05 PONTOS

2. INTELBRAS 428,65 PONTOS

3. TOLEDO 409,25 PONTOS