Soldados norte-americanos encarregados de guardar armas nucleares na Europa criaram fichas de memorização em populares sites de educação, nas quais expuseram a localização exata desse armamento e protocolos de segurança ultrassecretos, de acordo com o portal de jornalismo investigativo Bellingcat nesta sexta-feira (28).

Para memorizar coisas como quais abrigos tinham cofres com bombas nucleares ativas, com os cronogramas de patrulha de segurança e detalhes sobre crachás de identificação, os soldados criaram flashcards em aplicativos como Chegg Prep, Quizlet e Cram.

“Com uma simples busca online por termos publicamente conhecidos por serem associados a armas nucleares, o Bellingcat foi capaz de descobrir cartões usados por militares que serviam nas seis bases militares europeias que armazenavam dispositivos nucleares”, escreveu Foeke Postma, autor da reportagem.

Eles encontraram um conjunto de 70 fichas no Chegg, intitulado “Estudo!”, que registrava os exatos abrigos que continham armas nucleares na base aérea de Volkel, na Holanda.

“Quantos cofres WS3 existem em Volkel?”, dizia o lado da pergunta de um cartão virtual, referindo-se ao termo militar para armazenamento de armas e sistemas de segurança. “Onze (11)”, estava escrito no lado da resposta.

Outra ficha da mesma coleção indicava que cinco dos 11 cofres eram “quentes”, ou seja, tinham bombas nucleares, enquanto os outros seis eram “frios”, e especificava quais.

Um conjunto de 80 cartões no site Cram detalhava os cofres “quentes” e “frios” da base aérea de Aviano, na Itália, revelando como um soldado deveria responder ao ativá-los com base em diferentes níveis de alarmes recebidos.

Outros flashcards revelavam segredos em bases na Turquia, Bélgica e Alemanha.

Alguns detalhavam a localização das câmeras de segurança; outros forneciam as palavras secretas que um militar, talvez capturado por agressores, deveria dizer ao telefone para indicar que estava preso.

Os cartões descobertos pelo Bellingcat estavam disponíveis publicamente desde 2013 e alguns foram utilizados em abril de 2021.

Segundo o Bellingcat, eles pareciam ter sido removidos depois que o site entrou em contato com a Otan e os militares dos EUA em busca de comentários antes de publicar seu artigo.