O confinamento imposto para conter a propagação do coronavírus salvou, segundo especialistas, milhares de vidas na Ásia, graças a uma redução dos acidentes de trânsito, suicídios e poluição. Mas essa tendência pode ser rapidamente revertida com o levantamento das restrições.

– Estradas mais seguras na Tailândia –

A Tailândia tem a segunda maior taxa de mortalidade no trânsito depois da Líbia, de acordo com um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), e suas estradas estão entre as 10 mais perigosas do planeta.

Ao proibir a venda de álcool por várias semanas e impor um toque de recolher ainda em vigor para conter a propagação da COVID-19, as autoridades alcançaram uma vitória temporária na segurança no trânsito.

Em meados de abril, durante a semana do Ano Novo Tailandês (Songkran), geralmente a mais mortal, o número de mortes nas estradas caiu 60% (167 vítimas contra 386 em 2019), segundo estatísticas do governo.

Embora as bebidas alcoólicas tenham voltado à venda, a tendência continua. Após a crise, “as pessoas bebem menos e são menos imprudentes nas estradas”, estima Banjerd Premjit, chefe de uma equipe de socorro na província de Pathum Thani, não muito longe de Bangkok.

Por esse motivo, a produção de caixões também caiu em um país onde apenas 56 mortes foram atribuídas ao coronavírus. Na empresa Suriya Coffin, “agora são produzidos 100 caixões por mês, em vez dos 300 habituais”, relata Thanata Poonau, funcionário da empresa.

– Menos suicídios no Japão –

O número de suicídios no Japão diminuiu com a pandemia, caindo 20% em abril, segundo a agência nacional de polícia.

Para explicar essa redução, os especialistas citam os efeitos benéficos do confinamento, ainda amplamente respeitado em Tóquio e nas regiões mais urbanizadas do arquipélago.

O trabalho ‘home office’, por exemplo, reduz a pressão dos chefes sobre os funcionários, elimina o trajeto casa-trabalho e aumenta o tempo de vida familiar, o que melhora a qualidade de vida.

Mas os especialistas defendem a prudência. Os suicídios podem aumentar novamente, já que o país está em recessão pela primeira vez desde 2015 e, como outras nações, está prestes a enfrentar uma grande crise econômica e social.

Em março de 2011, após o terremoto e o subsequente tsunami, os suicídios inicialmente diminuíram antes de aumentar claramente depois.

– Crimes na Índia caem –

Embora seja muito cedo para estabelecer uma tendência geral, os primeiros números mostram uma diminuição dos crimes em algumas regiões da Índia desde o início do confinamento, o maior do mundo com 1,3 bilhão de pessoas envolvidas.

No estado de Kerbala, região turística do sul, “os assassinatos diminuíram claramente em comparação com o ano passado, assim como os estupros, que caíram 70%”, segundo Pramod Kumar, porta-voz da polícia local.

O mesmo ocorre em Nova Délhi e em outras grandes cidades.

Mas essa tendência é reversa para a violência doméstica. As denúncias de violência doméstica mais que dobraram, de acordo com dados da Comissão Nacional de Mulheres.

– Menos poluição na China –

A pandemia, ao causar o fechamento temporário das fábricas, limpou por semanas o céu das cidades chinesas, com níveis de dióxido de nitrogênio 30% mais baixos nos dois primeiros meses do ano nas áreas mais industrializadas do país.

Essa redução, bem como a queda de partículas finas, teria evitado a morte de 12.125 pessoas no país em meados de fevereiro, principalmente devido a doenças cardiovasculares, de acordo com um estudo publicado em meados de maio pela revista científica britânica The Lancet.

Mas essa tendência terá vida curta. Com o levantamento progressivo das restrições e o retorno ao trabalho, vários centros industriais estão tentando recuperar o tempo perdido.

Em abril, os níveis de poluentes no ar foram ainda maiores do que no mesmo período do ano anterior, segundo dados do Greenpeace China.