Dezenas de milhares de “coletes amarelos” se manifestaram sem incidentes maiores em toda a França pelo 10º sábado consecutivo, pondo à prova o debate nacional convocado pelo presidente Emmanuel Macron sobre as exigências deste movimento.

O ministério do Interior contabilizou 84.000 manifestantes em todo o país, praticamente a mesma cifra da semana passada. Em Paris, o protesto reuniu 7.000 pessoas, em comparação com as 8.000 de sábado passado.

Na capital, uma procissão de milhares de manifestantes em clima festivo percorreu 14 quilômetros. Cerca de 5 mil policiais acompanharam a rota planejada pelos manifestantes.

Os manifestantes, que desafiaram o frio na capital francesa, levaram cartazes contra “King Macron” e contra o “grande debate nacional” que o presidente lançou esta semana para acalmar a ira. “É apenas uma cortina de fumaça”, disse Bernard Saidani, um manifestante de 66 anos.

Ao final do cortejo foram registrados alguns incidentes entre manifestantes e policiais. Os agentes dispararam gases lacrimogêneos e jatos de água perto da esplanada do Palácio Nacional dos Inválidos, no centro da capital, para dispersar os manifestantes que lançavam pedras e garrafas.

Cerca de 30 pessoas foram detidas na capital, principalmente por porte ilegal de armas, segundo a polícia.

Além de Paris, milhares de manifestantes desfilaram nas principais cidades da França, incluindo Toulouse, Bordeaux e Lyon, em meio a fortes dispositivos policiais, com 80.000 agentes em todo o país.

Houve conflitos nas manifestações, mas sem comparação com a violência registrada em alguns dos protestos anteriores deste coletivo.

Alguns manifestantes usavam uma rosa branca em homenagem a pessoas mortas ou feridas “pela causa”.

Desde meados de novembro, 10 pessoas morreram em acidentes relacionados às manifestações, a maioria durante os bloqueios de estradas, e 3.000 ficaram feridas (manifestantes e policiais).

O movimento dos “coletes amarelos”, que começou como uma revolta contra o aumento de um imposto sobre o combustível, transformou-se em protestos semanais em toda a França contra a política fiscal e social de Macron, que em várias ocasiões degenerou em violência e confrontos com a polícia.

O “Desarmar”, um grupo local que faz campanha contra a violência policial, documentou 98 casos de ferimentos graves desde os primeiros protestos nacionais, incluindo 15 casos de pessoas que perderam um olho, especialmente pelo uso de balas de borracha por parte da polícia.

– Debate nacional –

O chamado “ato X” dos “coletes amarelos” acontece apesar do lançamento na terça-feira de um grande debate nacional.

O presidente francês pediu um diálogo “sem tabus” ao abrir um grande debate nacional para tentar desativar os protestos dos “coletes amarelos”.

“Este debate está”aberto a todos os temas (…) não deve haver tabus”, declarou Macron durante um encontro com 600 prefeitos e representantes locais em Grand Bourgtheroulde, um pequeno povoado da Normandia (noroeste).

Com este diálogo nacional o presidente tenta arrefecer as manifestações dos “coletes amarelos”, um coletivo de franceses que protesta em todo o país desde meados de novembro contra a política social e fiscal do governo, que considera favorecer os ricos.

“Acho que podemos converter este momento que a França atravessa em uma oportunidade”, considerou o presidente de 41 anos.

Também reiterou o seu pedido para acabar com a “violência” que manchou alguns protestos. “A ira nunca trouxe soluções”, apontou.

Esta reunião marcou o início de dois meses de diálogo nacional que será estruturado em torno de quatro grandes temas: o sistema fiscal e a ação pública, o funcionamento do Estado e dos coletivos públicos, a transição ecológica e a democracia.

A tarefa de Macron será árdua para convencer os franceses, muitos dos quais não veem utilidade nesta discussão.

Segundo uma pesquisa Elabe para a emissora BFMTV, divulgada na terça, 40% dos cidadãos querem participar das conversas, mas somente 34% consideram que ajudarão a sair da grave crise política que a França atravessa.