O assassinato da vereadora Marielle Franco completou 1.000 dias nesta terça-feira (8). A data gerou comoção nacional e criou protestos na Câmara dos Vereadores no Rio de Janeiro, com parlamentares marcando presença nas redes sociais contra o crime ainda sem respostas. Marielle foi uma das vereadoras mais votadas nas eleições do Rio de Janeiro em 2016 e, ainda em seu primeiro mandato, foi executada a tiros junto com seu motorista, Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018. Apesar de suspeitos do crime estarem presos, ainda não se sabe quem foi o mandante do assassinato.

Nas redes, o ex-presidente Lula comentou: “Há mil dias o país espera respostas. Há mil dias assistimos a escalada do ódio, da política, das ameaças, do preconceito e da intolerância. Precisamos de paz e de Justiça. Justiça para Marielle e para o Brasil”. Na mesma linha, o governador da Bahia, Rui Costa (PT) disse que “Marielle é a memória constante de que a busca por justiça e a luta contra a desigualdade e racismo no Brasil ainda têm um longo caminho”.

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Com a hashtag #1000DiasSemMarielle, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT) usou as redes sociais para dizer que “a homenagem a ela (Marielle) é em nome de todas as vítimas de assassinatos sem resposta”. O apelo à justiça pela morte da vereadora foi seguido de comoção a recentes assassinatos, como a morte das primas Emily e Rebecca, na sexta-feira (4), e de Miguel, em junho. O trecho “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, da música “Carne”, de Elza Soares, também ecoou entre alguns parlamentares.

Para a deputada Tabata Amaral (PDT-SP), “Marielle era uma voz potente na política e não existe nada mais violento para a democracia que tentativas de silenciamento. Precisamos de respostas! Enquanto perdurar a impunidade, perdura o medo e insegurança nas pessoas de ocuparem seu lugar na política.”

A Líder do Psol na Câmara, Sâmia Bomfim (SP), também comentou sobre o caso: “Hoje completam-se 1.000 dias do assassinato da nossa companheira. Dia de reivindicar com ainda mais força o legado dessa grande mulher e exigir justiça.”

A comoção dos parlamentares permeia duas perguntas: “Quem mandou matar Marielle? E por quê?”. Para a deputada federal do PCdoB Jandira Feghali (RJ), “a dor tem de cessar com a verdade”. Já Marcelo Freixo, deputado federal do PSOL, compartilhou a mesma agonia pela falta de resposta e tuitou que, “enquanto essa pergunta não for respondida, não haverá futuro para a democracia brasileira”.

Atualmente, a principal linha de investigação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio é que o crime teria sido contratado por políticos ligados à milícia – que já domina um terço da cidade – em uma vingança contra o atual deputado federal Marcelo Freixo, um dos principais nomes do PSOL. Marielle trabalhou durante uma década no gabinete de Freixo e era sua amiga pessoal. Há 12 anos, Freixo coordenou a CPI das Milícias, na Assembleia Legislativa do Rio, que expôs a facção criminosa e resultou em várias prisões.

A hashtag #1000DiasSemMarielle ocupa o primeiro lugar dos entre os assuntos mais comentados do Twitter no Brasil na manhã desta terça-feira. Também está sendo compartilhado nas redes sociais um vídeo de Mônica Benício, viúva de Marielle e vereadora eleita este ano no Rio, em que personalidades cobram ações de autoridades para desvendar o crime.

História

Nascida e criada na Favela da Maré, ativista de direitos humanos, engajada na luta antirracista, nas pautas feministas e nas causas LBBTQIA+, Marielle era muito atuante na Câmara dos Vereadores em seu primeiro mandato. O crime rapidamente ganhou as manchetes em todo o mundo, não apenas por ser um ataque à democracia e às bandeiras defendidas pela parlamentar, mas também por marcar um novo patamar de atuação do crime organizado no País.

Em entrevista ao Estadão, Anielle Franco falou sobre o Instituto Marielle e o legado da irmã. “O instituto surgiu em 2019, a partir desse assassinato brutal. Originalmente a ideia era fazer um pré-vestibular, mas acabou se tornando algo maior, mais amplo. Começamos 2020 a todo o vapor, mas com a pandemia, acabamos nos voltando para ações voltadas às pessoas mais atingidas pela doença, distribuindo cestas básicas”, explica.