Vem aí munição pesada na guerra dos portais na Internet brasileira. Quem vai detoná-la é o exército do magnata Bill Gates no País. Até o final de outubro, a subsidiária brasileira da Microsoft, empresa do homem mais rico do mundo, vai entrar com tudo no combate, hoje travado por Terra, iG e UOL e outros grandes sites. O plano de ataque já está definido: a empresa anuncia nas próximas semanas o relançamento da versão nacional do MSN.com, portal que lhe deu a liderança mundial de audiência. Um orçamento de US$ 50 milhões sustentará as manobras da companhia e, pela primeira vez, haverá um investimento maciço em publicidade, marketing e alianças estratégicas de conteúdo. ?Até hoje fomos muito tímidos nesse terreno?, afirma Osvaldo Barbosa, diretor de Negócios On-line da Microsoft no Brasil. ?Agora, vamos pôr em prática também aqui a estratégia que fez do MSN.com o maior portal do mundo?.

Barbosa acaba de receber sinal verde do quartel-general em Redmond, nos Estados Unidos, para arregimentar um exército de 30 pessoas e partir para a luta. É pouco, diante das numerosas equipes dos concorrentes, mas um contingente revelador de que os caminhos que a Microsoft trilhará em busca da liderança são bem diferentes dos utilizados pelos demais. Enquanto os grandes portais nacionais tentam se diferenciar pela diversidade de canais e pelo conteúdo exclusivo, o MSN.com privilegiará a tecnologia, especialidade número 1 da companhia. ?Temos pesquisas que mostram que o internauta procura num portal, em primeiro lugar, e-mail, mecanismos de busca e bate-papo?, diz Barbosa. ?Tudo isso é movido por software, que é o que mais sabemos fazer.? Mesmo os recursos, inferiores aos investidos por muitos sites no País, são considerados mais do que suficientes pelo homem que tem a responsabilidade de fazer o portal decolar por aqui. ?Não preciso mais que isso?, afirma Barbosa. ?Temos US$ 4 bilhões investidos e milhares de pessoas trabalhando em pesquisa e desenvolvimento em todo o mundo.?

 

A esmagadora força da Microsoft tem feito estragos em outros países. Graças a ferramentas como o serviço de e-mail gratuito Hotmail, o mecanismo de mensagens instantâneas Instant Messenger e o sistema de buscas MSN Search ? além de alianças como a formada com a rede de tevê americana NBC, que resultou no site de notícias MSNBC ? os portais da companhia em 33 países somaram, em setembro, a audiência de 210 milhões de usuários únicos (aqueles que acessam o site pelo menos uma vez ao mês). Ficaram, assim, à frente de Yahoo! e AOL, tradicionais líderes nos rankings dos principais institutos de aferição de tráfego na Internet. No Brasil, mesmo trabalhando em silêncio, o MSN.com já aparece em quarto lugar na lista do instituto americano AlexaResearch, atrás de UOL, iG e BOL. ?Subimos para o segundo lugar se juntarmos a audiência do MSN.com.br?, diz Barbosa. ?Nessa guerra, já partimos de um patamar considerável.?

Os bons números (confira no quadro) ajudam a apagar tentativas frustradas feitas anteriormente pela Microsoft para deixar sua marca no espaço virtual brasileiro. A versão brasileira do MSN.com entrou silenciosamente no ar em abril do ano passado, quando a estratégia da companhia era buscar um forte parceiro local. A empresa chegou a anunciar uma associação com as Organizações Globo para desenvolverem juntos o portal Globo.com, mas a convivência dos dois grupos não deu certo. ?Há uma grande diferença de visão entre a MSN e os grupos de mídia?, conta Barbosa.

Sem pressão. Globo e Microsoft continuam juntas na Globocabo ? Bill Gates investiu US$ 126 milhões na empresa, da qual detém hoje cerca de 9% das ações ?, mas agora duelam no terreno dos sites. Por isso, Barbosa não se acanha em atirar no ex-parceiro. ?Não conheço empresa de mídia bem-sucedida na Internet?, alfineta. ?Da mesma forma, não sei de nenhum portal regional ou local que dê lucro.? O MSN.com não difere muito da concorrência no quesito receita. Assim como os outros portais, seus resultados financeiros dependerão quase que exclusivamente do dinheiro daqueles que anunciarem em suas páginas. ?Nosso grande trunfo é a escala?, afirma o executivo. ?Com atuação global, diluímos os custos e aumentamos o faturamento publicitário.? O MSN.com tem, além disso, outras vantagens. Uma delas está no fato de o navegador da Microsoft, o Explorer, já vir configurado de fábrica, para ter o portal como página inicial. Assim, se o usuário não mudar essa configuração, acessará automaticamente o site cada vez que entrar na rede. Por último, mas não menos importante está a capacidade da Microsoft de fazer apostas a longo prazo, sem se preocupar com retornos imediatos. ?Não temos de nos preocupar com investidores, com a segunda rodada de captação ou com o IPO que vem aí?, ironiza Barbosa.