Os microplásticos, poluentes presentes até no Everest, no Ártico ou no meio do oceano, são transportados entre continentes por ventos de altitude, segundo um estudo publicado nesta terça-feira (21) na revista Nature Communications.

Os pesquisadores estão cada vez mais preocupados com esses resíduos de poucos milímetros e que vêm, por exemplo, de embalagens ou da lavagem de roupas.

Sua presença foi detectada inclusive perto do topo do Everest, com certeza procedente do material usado pelos alpinistas.

Outros estudos revelaram que há microplásticos até na neve dos Alpes ou do Ártico, assim como em rios e nas partes mais remotas dos oceanos.

Também são detectados no ar, muito próximo do chão.

Desta vez, um grupo de pesquisadores procurou esses resíduos no ar “limpo” de altitude, acima das nuvens.

Os cientistas – do Centro Nacional para a Pesquisa Científica (CNRS) na França, da Universidade Grenoble Alpes 2 e da Universidade de Strathclyde (Escócia) – coletaram amostras no observatório do Pic du Midi, a 2.877 metros de altitude, nos Pirineus franceses, entre junho e outubro de 2017, com uma bomba que aspirava 10.000 m3 de ar por semana.

Todas as amostras continham microplásticos. Embora as quantidades não representassem um risco imediato para a saúde, são significativas para uma região que supostamente está limpa e a qual “não se pode facilmente atribuir” uma origem local da contaminação, segundo os pesquisadores.

Para determinar a procedência dos poluentes, calcularam a trajetória das diferentes massas de ar das amostras nos sete dias anteriores à sua extração.

Descobriram que os poluentes vinham do noroeste do continente africano, passando pelo Mediterrâneo, América do Norte e pelo oceano Atlântico.

Os dados confirmam que os microplásticos se movem entre continentes porque a troposfera livre, que é a zona atmosférica estudada, atua como “via ultrarrápida” para grandes distâncias para as partículas, explica o principal autor do estudo, Steve Allen.

Para o pesquisador, a descoberta mais destacada do estudo é, no entanto, a origem marinha de uma parte dessas partículas.

“O fato de o plástico ser arrastado do oceano até altitudes tão elevadas prova que não há nenhum reservatório de armazenamento possível, está dando voltas em um ciclo perpétuo”, afirma.

É uma “prova de que não é possível enviar o plástico ao exterior, porque voltará” de outra forma, acrescenta.

Principalmente porque algumas das partículas analisadas “são de um tamanho que podemos respirar”, acrescenta Deonie Allen, também autora do estudo.

Esses resultados “provam que este é um problema global”, acrescenta a pesquisadora.