O dinheiro, ou melhor, a falta dele, tem sido o maior entrave para a popularização da Internet no Brasil. ?Os preços do PC e da conta telefônica são as maiores barreiras?, diz João Bustamante, analista de Internet do instituto de pesquisas IDC. Hoje, as classes A e B representam 84% dos usuários da rede. Mas a situação ameaça mudar. Um após outro, os bancos brasileiros estão oferecendo linhas de financiamento para a compra de computadores. Num período de menos de um mês, o Bradesco, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica lançaram linhas de crédito que somam US$ 4,1 bilhões. E o Itaú deve anunciar seu plano a qualquer momento. Com juros entre 2,5% ao mês, mensalidades entre R$ 70 e R$ 100 e prazos de até 24 meses, eles pretendem ampliar o número de internautas, que fica entre 3% e 7% da população. ?Precisamos expandir os números da rede para que ela realmente se torne um canal de educação, de cultura e, obviamente, de comércio e de ofertas de serviços?, diz Luiz Lobo, diretor de projetos estratégicos da Globo.com, que está trabalhando em parceria com a Caixa. A dupla vai oferecer crédito, cursos e acesso gratuito por dois anos para pessoas com renda acima de R$ 300 por mês, o que inclui um universo de 58% da população brasileira. Bem maior, portanto, que os atuais 5%.

 

Por parte dos bancos, além do interesse direto no financiamento, há também o desejo de reduzir as despesas das agências. ?Os acessos pela rede diminuem o custo por cliente?, resume André Nogueira, gerente executivo e responsável pelo projeto de Internet do Banco do Brasil, que incluiu no seu menu de ofertas celulares WAP e micros de mão. Para criar uma ?cultura de Internet?, o banco colocou nas suas agências mil pontos de atendimento para que interessados naveguem na Internet com a ajuda de um funcionário. ?Temos pesquisas que revelam que 18 milhões de brasileiros pretendem entrar na Internet nos próximos seis meses?, diz Nogueira. É a fome com a vontade de comer. Ou o desejo e a vontade de sonhar.

A indústria de computadores, que já vinha registrando um aumento das vendas, agradeceu a injeção de crédito. ?A abertura de novas linhas de financiamento deverá dar uma grande alavancada na venda de micros?, diz Sabrina Lacerda, gerente de produtos da Compaq. Nos primeiros três meses do ano, a fabricante vendeu o equivalente a 90% de tudo o que foi vendido no ano passado. Além dos financiamentos, a estabilidade da moeda e o acesso gratuito fizeram com que as empresas alterassem a previsão de vendas. ?Até o final do ano devem ser vendidos 3 milhões de micros?, conta Paulo Zirnberger de Castro, gerente de marketing da IBM. Para se ter uma referência, o IDC estima que até o final de 2000 o País tenha 9 milhões de PCs.