Muita gente se preocupou em descobrir o que aconteceria com os Certificados de Investimento Audiovisuais, os papéis de investimento em cinema, depois do escândalo do filme Chatô. A resposta é: nada. Como negócio, eles continuam o mesmo mico de antes ? ganhar dinheiro com eles é quase impossível. Mas podem ser úteis em operações fiscais, para abater até 3% do Imposto de Renda, e as corretoras adoram trabalhar com eles, porque cobram taxas imensas ? 10% sobre o valor total, mais do que o dobro do usual para uma emissão de debêntures. O maior retorno é o puro e simples marketing de investimento cultural.

Cada vez mais cineastas vêm recorrendo ao mercado financeiro para custear suas obras. No ano passado, houve R$ 146 milhões em emissões. Um dos líderes no ramo é o diretor Luís Carlos Barreto, de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Bossa Nova, filme este que já levou 550 mil espectadores ao cinema e vai estrear na Europa e nos EUA. Barreto captou R$ 2,7 milhões para financiar Bossa Nova. ?Apesar do sucesso do filme, está difícil buscar dinheiro no mercado?, diz Carlos Sehbe, diretor da Blue Chip, corretora especializada nesse tipo de operação. Ainda R$ 150 milhões em cotas do filme que não foram vendidas.

O número de empresas que compram certificados vinha aumentando até que Chatô, o Rei do Brasil, filme de Guilherme Fontes, consumiu R$ 8 milhões sem ter sido terminado, e descobriu-se que houve desvio de verbas. ?Muita empresa deixou de investir por medo de ser envolvida em escândalos financeiros?, conta Sehbe. O medo é justificado porque a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) presta pouca atenção a esse tipo de emissão. Apenas um em cada 100 projetos apresentados é recusado. Para piorar, a CVM não tem o poder de punir irregularidades. No caso de desvio de dinheiro, ela pede providências ao Ministério Público. Para os investidores, que já conseguiram o abatimento no IR, geralmente nem vale a pena chiar ? os custos do processo são sempre mais caros do que o investimento.