Conseguir recursos para tirar uma ideia do papel, ou mesmo alavancar uma empresa que já demonstra potencial de mercado, sempre foi um desafio e tanto. Especialmente no Brasil onde a aversão ao capital de risco é enorme. Atolados na burocracia, os bancos estatais de fomento, leia-se Banco do Nordeste, BNDES e BDMG, não conseguem repassar suas linhas de crédito. Infelizmente, trata-se de um problema que, em maior ou menor escala, se repete nos demais países da América Latina. Mas o cenário poderá virar em breve.

Isso porque, o potencial dos empreendedores da região está despertando a atenção de um grupo de investidores de Miami, que promove o eMerge Americas, plataforma de eventos de tecnologia e inovação. “Queremos transformar a cidade na principal porta de entrada das empresas latinas nos Estados Unidos”, destaca Felice Gorordo, CEO da eMerge Americas. Falando um português com ligeiro acento carioca, o executivo não esconde sua admiração em relação ao Brasil. Segundo ele, as startups latinas, em geral, e as brasileiras, em particular, terão um tapete vermelho estendido diante de si. “Quem quiser fazer a América, deve começar por Miami.”

Evento reúne fundos de Venture Capital, gigantes da tecnologia, acadêmicos e empreendedores dispostos a “Fazer a América” (Crédito:Cecília Bastos Ribeiro/Jornal da USP e divulgação eMerge Americas)

Os números indicam que não se trata de “promessa vazia”. Desde que foi lançada, em 2014, a iniciativa já atraiu centenas de empresas para o Startup Showcase, seu principal palco. De lá, 70 saíram com investimentos que totalizam US$ 500 milhões. Felice diz que ainda há muito mais recursos disponíveis, especialmente nas linhas de venture capital. “Miami fechou 2018 como a 11ª maior captadora de recursos nesta modalidade, nos Estados Unidos, com US$ 1,4 bilhão. Somente no acumulado janeiro-agosto deste ano, já batemos em US$ 1,5 bilhão e saltamos para a sétima colocação, superando Chicago e Austin.”

O Brasil entrou no radar da eMerge Americas em 2018, quando a Universidade de São Paulo (USP) passou a integrar o Consórcio Universitário Hemisférico, que congrega 11 instituições de ensino. Como a articulação foi liderada pela Universidade de Miami, os integrantes da plataforma acabaram travando contato com a comitiva brasileira. Foi neste que a USP se transformou numa espécie de curadora das startups brasileiras. A seletiva realizada em meados de outubro, na Arena Santander, no campus da universidade, previa apenas duas vagas, mas cinco acabaram sendo escolhidas (veja lista abaixo).

Apesar de o funil ser bastante estreito e exigir desafios adicionais, como fazer o pitch em inglês, o CEO da eMerge Americas garante que a cidade está de braços abertos. “Em Miami, os empreendedores latinos podem realizar um pouso suave, pois a cultura local é bem similar à do continente e a economia é baseada na força dos imigrantes”, destaca. Para Felice, as oportunidades estão em todos os segmentos. Contudo, ele destaca o grande potencial da área de saúde, responsável por cerca de 30% dos negócios gerados na cidade. Aliás, não foi por outro motivo que quatro dos cinco selecionados na rodada de pitch, realizada na USP, apostam em inovação neste segmento.

Carefy, uma plataforma de gerenciamento e monitoramento de pacientes internados;
GlucoGear, desenvolvedor de IA que empodera pacientes no controle de diabetes por meio de ferramentas inteligentes e integradas;
Insitu, terapia celular para tratamento de pacientes portadores de úlceras crônicas e queimaduras graves;
Agromakers, produtor de tecnologia de irrigação de precisão;
Fleximedical, fornecedor de containers, unidades portáteis, carretas e vans de saúde.