E eis que o ministro Paulo Guedes resolveu fazer sua própria reforma de equipe na pasta da economia. Não bastou a debandada em série de auxiliares estratégicos nos últimos tempos, ele tratou de mexer nos quadros que restaram. A ideia, ventilada em Brasília, é a de que Guedes busca assim ficar de bem com o Congresso e acomodar as pressões políticas. Foi agora despachado de volta para casa o até então secretário da Fazenda, espécie de braço-direito, Waldery Rodrigues. Guedes alega ter sido uma saída em consenso, não demissão. Pouco importa. Os motivos por trás do bilhete azul do secretário teriam sido os atritos em torno da peça orçamentária fictícia. Rodrigues não se conformava com a alternativa criada. Em setembro do ano passado, Waldery havia dito que a equipe econômica estudava o congelamento de benefícios como aposentadorias e também a redução do seguro-desemprego. O presidente Bolsonaro o respondeu diretamente, na ocasião, apontando que daria “cartão vermelho” a quem, dentro do governo, lhe apresentasse propostas de congelamento como essa. Agora o secretário foi afastado de vez. Para o seu lugar foi escolhido o atual secretário de Tesouro, Bruno Funchal, este substituído pelo assessor especial de Guedes, Jefferson Bittencourt, deslocado da antiga função. Waldery foi a 11ª baixa na equipe. Também saiu de cena Vanessa Canado, assessora especial voltada para o tema da reforma tributária. E é sintomático. O Ministério do Posto Ipiranga terá de dar uma boa guinada nas discussões sobre o assunto para se adequar às pretensões lançadas pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, com o qual o ministro já não vinha tendo bom entendimento. Dias atrás, Lira fez um ultimato, exigindo a apresentação de uma proposta factível sobre o tema já para o próximo dia 3. Canado, advogada tributarista por formação, tinha sido uma das idealizadoras da proposta do Governo que une o PIS e o Cofins e a tendência agora da reforma parece apontar para mais um aumento da carga, e não rumo à diminuição. Canado também não concordava com o acordo que vem sendo alinhavado entre o Governo e a Câmara a respeito do CBS, imposto a ser criado. Ela anunciou que vai voltar à vida acadêmica. Como mudança pouca é bobagem, também entrou no radar a troca do atual secretário de Orçamento, George Soares, a ser substituído por Ariosto Antunes Culau, que antes atuou na Secretaria-Executiva da pasta. O desmonte na estrutura ministerial é agudo e não deve parar por aí. Novas baixas são esperadas para os próximos dias. De uma forma ou de outra, a dança de cadeiras pode sinalizar o fim da era de um superministério. A conferir. No momento, como uma espécie de aceno e gesto de boa vontade aos parlamentares, Guedes teria aceitado a separação de setores da Previdência e Trabalho em sua estrutura, desmembrando o largo latifúndio. Não está também descartada a reiterada proposta de aliados do presidente de recriar a pasta do Planejamento – assunto que vai e volta, nas últimas semanas com grande frequência. Para líderes partidários, nomear um senador governista na estrutura, após o desgaste de Guedes, seria de bom tom. Segundo alguns deles, o atual ministro vem perdendo, gradativamente, capacidade de interlocução. Aos assessores mais próximos, Guedes queixa-se da falta de reconhecimento de seu trabalho. Ele ficou nos últimos dias sob intenso bombardeio devido aos cortes no Orçamento. Um dos que mais se queixaram foi o tradicional rival, Rogério Marinho, titular da pasta do Desenvolvimento Regional, que teria sofrido a maior garfada. Entre vetos e bloqueios perdeu cerca de R$ 9,4 bilhões.

Carlos José Marques, diretor editorial