O que vende uma agência de publicidade ou um escritório de arquitetura? Soluções criativas. E uma rede hoteleira? Conforto e serviços impecáveis, que fazem os clientes se sentirem em casa. Na nova tendência da arquitetura corporativa, o estilo de uma companhia não está estampado apenas no logotipo ou em sua comunicação ao mercado. Nos dias de hoje, o escritório também se tornou um importante cartão de visita. Paredes, recepção e até o mobiliário dos escritórios devem refletir a identidade da empresa. Um dos bons exemplos desse movimento é a agência Neogama/BBH, sediada em São Paulo. 

 

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Arquitetura em caixas: no escritório suíço Group8, de arquitetura, contêineres

fazem as vezes de salas de reunião e otimizam o espaço de 800 m2

 

A empresa saiu do bairro paulistano da Vila Olímpia e se instalou em um endereço totalmente personalizado na Vila Leopoldina. “Queríamos um projeto que começasse do zero”, diz o presidente e diretor de criação da agência, Alexandre Gama. O publicitário investiu R$ 1,9 milhão no sonho de construir um endereço que harmonizasse com a alma da agência. 

 

O projeto dos arquitetos André Vainer e Guilherme Paoliello mostra, já na fachada, a cara da Neogama (literalmente): no lugar de tijolos ou de um muro de concreto, um mosaico com os rostos dos 260 profissionais da empresa embalam o prédio de seis mil metros quadrados. 

 

As cores amarela e vermelha, do logo da agência, também estão por toda parte. “Queria que as pessoas entrassem aqui e acreditassem que respiramos criatividade, sem eu ter que falar nada”, diz Gama, feliz com o resultado do novo layout da Neogama. 

 

Na mesma toada, só que do outro lado do Atlântico, o escritório de arquitetura suíço Group8, em Genebra, traduziu esse movimento usando contêineres no lugar de paredes e divisórias. “Compramos uma série dessas caixas de segunda mão nos portos de Genebra e demos a elas novas utilidades”, conta Marie Avril Berthet, diretora de comunicações do Group8. 

 

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Criatividade amplificada: o escritório da agência de publicidade Neogama/BBH traz as cores da

empresa por toda parte e abriga todos os funcionários praticamente num mesmo ambiente

 

Empilhados em uma área de 800 metros quadrados e nove metros de pé-direito, as caixas viraram salas de reunião, espaços de descanso e até cozinha. “Estes contêineres viajaram milhares de quilômetros ao redor do globo”, diz Marie. Assim como a empresa, que tem ramificações na Ásia e na América, com suas filiais em Hanói, Cingapura e Nova York.

 

“Muitos escritórios estão sendo pensados como a casa da gente, transmitindo a ideia de um agradável convite ao trabalho”, diz Claudia Andrade, da Andrade e Azevedo Arquitetura Corporativa. Foi pensando em transformar o escritório em uma segunda residência de seus funcionários que a Accor mudou o endereço de sua sede, em São Paulo. 

 

O novo prédio tem quase o aconchego de um condomínio residencial, com salão de cabeleireiro e um restaurante-café que abriga painéis pivotantes – giram 360º em torno do eixo –, que a um simples toque criam saletas para reuniões informais. Detalhes que fazem a diferença e tornam mais agradável a estadia do funcionário no escritório, assim como acontece nos hotéis da rede. 

 

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Convite ao trabalho: restaurante com painéis pivotantes, que formam saletas, na Accor (acima)

 

A mudança foi sentida na pesquisa realizada sobre o ambiente de trabalho, que  mostrou um aumento no índice de satisfação de 60% para 80%. Para desenhar espaços identificados com a atividade de seus clientes, o escritório de arquitetura Edo Rocha conta com a expertise dos profissionais e uma tecnologia ainda inédita no País: um robô, desenvolvido pela Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, EUA, que avalia as condições do lugar, antes da elaboração do projeto (confira boxe).

 

Por conta desse incremento, entre outras especificações de seus profissionais, um metro quadrado de área construída por Edo Rocha custa em média R$ 3 mil, segundo Guilherme Corrêa, diretor de planejamento e gestão de mercado do escritório. 

 

Um de seus clientes, o Serasa, maior banco de dados de crédito de consumidores, empresas e grupos econômicos do País, pediu ajuda ao robô para repaginar seu prédio. “O novo projeto contemplou o patrimônio humano do banco, que passou a usufruir de um jardim, lanchonete e salas com layout ergonômico”, diz Milton Luís Pereira, diretor de desenvolvimento humano do Serasa.

 

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Convite ao trabalho: escritório com árvores e iluminação natural, em prédio da Idea!Zarvos

 

Os novos prédios para escritórios também andam comprando a ideia do aconchego. O edifício W305, na Vila Madalena, em São Paulo, foi projetado pelo arquiteto Isay Weinfeld (o mesmo do Hotel Fasano) e traz, em cada andar, áreas externas arborizadas que possibilitam a ventilação e a iluminação natural do ambiente. O espaço ainda oferece um bicicletário e vestiários com chuveiro. 

 

Agências de publicidade e marketing, escritório de engenharia ambiental, advogados e o próprio projetista que o elaborou serão alguns de seus condôminos. “Procuramos instalar nossos empreendimentos em lugares em cujas proximidades exista vida além do trabalho, como galerias de arte, cafés, bares, lojas”, diz Otávio Zarvos, dono da incorporadora Idea!Zarvos, que construiu o prédio a um custo de R$ 15 milhões, e que mantém seu escritório no mesmo bairro descolado. 

 

 

Inteligência artificial

 

Parece coisa de filme de ficção científica. Mas é a mais pura realidade. O governo dos EUA – país que tem mais de um milhão de pessoas trabalhando dentro de escritórios – investiu US$ 10 milhões no programa Intelligence Workplace, hospedado na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburg. 

 

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O IW consiste no mapeamento computadorizado dos ambientes de trabalho feito por um robô, que avalia, por meio de sensores, a qualidade do ar,  acústica, térmica e de iluminação dos espaços corporativos. 

 

“É proposto então um projeto a partir desses dados. Novas medições são feitas e, geralmente, obtêm-se mais de 80% de aprovação por parte dos usuários em quesitos antes deficientes”, diz Guilherme Corrêa, diretor de Planejamento e Gestão de Mercado da Edo Rocha Espaços Corporativos. A Edo é a única empresa brasileira e uma das três empresas do mundo que adquiriram a tecnologia pelo custo de US$ 50 mil.