O já conhecido vento indiscreto da Linha 4-Amarela do Metrô, que nos túneis de acesso bagunça cabelo, levanta saia e refresca a nuca dos usuários, também está nas escadas rolantes de entrada da Estação Higienópolis-Mackenzie, na região central de São Paulo. Com cinco anos de atraso, ela será entregue na próxima terça-feira, dia 23.

A previsão do governo Geraldo Alckmin (PSDB) é entregar as Estações Oscar Freire e São-Paulo Morumbi, respectivamente, em março e julho deste ano. A última estação da linha, Vila Sônia, será entregue no fim de 2019.

Até o dia 3 de fevereiro, a operação da Higienópolis-Mackenzie será restrita: das 10 às 15h. Por dia, 42 mil pessoas deverão usar a estação. Com 12 mil m² de área construída, o tamanho se assemelha à Estação Fradique Coutinho.

O acesso à estação é pela Rua da Consolação – no lado par, os usuários podem sair também na Rua Piauí. Da calçada até os trilhos do trem, são 25 metros de profundidade – em cenário semelhante ao que se vê na Estação Faria Lima. Para quem entra na estação pelo lado par da Rua da Consolação, cinco níveis de escada rolante separam o usuário dos balcões de bilheteria. No percurso até a área subterrânea, ladrilhos de cerâmica nas cores verde e cinza compõem as paredes.

As dez catracas de acesso à plataforma apresentam bloqueios de vidro, seguindo o padrão do ramal. Também no modelo da linha, a plataforma apresenta portas, tidas como opção de maior segurança. Ali, uma placa informa: a lotação máxima é de 1.786 pessoas.

Acima da plataforma, o vento que circula na estação também se faz presente, balançando as placas de informação. Uma parede ao fundo – no lado de acesso ao sentido Luz – está preparada estruturalmente para ser quebrada quando for construída a conexão da Linha 6-Laranja. Um prédio de seis andares, no lado ímpar, guarda gerador e porão de cabos.

Higienópolis

A região é movimentada. Na Rua da Consolação, um corredor de ônibus interliga os terminais da região central às Avenidas Paulista, Rebouças e Doutor Arnaldo. A estação está a aproximadamente 200 metros da parada de ônibus mais próxima.

Além da Universidade Presbiteriana Mackenzie, há escolas, estabelecimentos comerciais, restaurantes e prédios residenciais. A estação é próxima também do Cemitério da Consolação, do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e do Sesc Consolação.

Ao ser informada pelo Estado sobre a inauguração da estação, a administradora Paula Lima, de 29 anos, que há dez trabalha no Mackenzie, não acreditou. “Não é possível. Estamos esperando há tanto tempo que eu só acredito vendo.”

Na previsão mais recente, a nova estação havia sido prometida pela gestão Alckmin para dezembro do ano passado. “Voltei do recesso achando que já teríamos a estação aberta, mas não estava”, diz ela, que quando sai da universidade para casa precisa caminhar até a Rua da Consolação e pegar um ônibus até a Estação Paulista do Metrô, onde alcança a Linha 2-Verde e vai até a Chácara Kablin.

Moradora da Rua Piauí, a “personal organizer” Simone Carvalho, de 54 anos, comemora a abertura da estação. “Vai ser ótimo. Vai valorizar nossos imóveis”, diz. “É uma linha muito selecionada.”

Na Rua Itambé, mora a aposentada Natércia Nogueira, de 76 anos, que teme o aumento de pedintes e assaltantes na região. “Vai ter muito pedinte na porta. E eles vão se espalhar porque sabem que passa muita gente na região. Não estamos acostumados a ver isso por aqui”, afirma. “O que vai acontecer é que vamos encontrar uma molecada assaltando. Aqui estávamos tranquilos em relação a isso.”

Atrasos

Com início das obras 14 anos atrás, a Linha 4-Amarela tem no histórico uma série de atrasos causada por paralisação das obras e rescisão de contrato. A construção do trecho projetado para conectar a Vila Sônia, na zona sul, até a Luz, na região central, teve início em abril de 2004. A previsão inicial era de que seis estações da primeira fase ficassem prontas em 2008. Mas as quatro estações, ligando Butantã até a Paulista, somente começaram a ser entregues em 2010. Em 2012, as obras foram retomadas, seis meses após a conclusão da primeira fase.

Em julho de 2015, as obras da Linha 4 foram paralisadas com a rescisão de contrato com o consórcio responsável pelo não cumprimento do acordo por parte da construtora. Até julho de 2015, quando os dois contratos com a empresa Isolux Corsán foram rescindidos por atrasos na execução, o custo seria de R$ 706,9 milhões.

Durante a vigência do negócio, o Metrô pagou à empresa R$ 236,9 milhões, 33,7% do total. Das estações previstas, só a Fradique Coutinho foi entregue e entrou em operação em novembro de 2014. Na ocasião, após rescindir o contrato, o Metrô relicitou a obra, dessa vez por R$ 858, 7 milhões.

Ao retomar as obras em agosto de 2016, a promessa era entregar Higienópolis-Mackenzie em 12 meses. Em agosto de 2017, a previsão passou a ser dezembro e foi novamente descumprida. Deve ser entregue, enfim, na próxima terça-feira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.