A expressão foi dada pelo próprio Bolsonaro. De uma hora para outra, querendo atender a categoria dos caminhoneiros, por temer ameaça de greve, ele resolveu “meter o dedo” na Petrobras. A ideia era controlar o preço do diesel, baixar mesmo na marra, por achar inconcebíveis as correções movidas à base de oscilações no preço internacional do barril de petróleo. Todo mundo segue o mercado, mas o capitão exigia ser diferente. Não foi atendido pelo gestor da companhia, mandou sumariamente lhe cortar a cabeça. Assim, de uma hora para outra. O trabalho na estatal, nos últimos tempos, era tido como exemplar. O demissionário Roberto Castello Branco havia feito um espetacular processo de recuperação das receitas, colocado a empresa no prumo. Mas não foi o suficiente para sensibilizar os humores de Messias. A clara intervenção estava sacramentada. O mercado entrou em polvorosa. O valor da corporação nas bolsas derreteu, somando mais de R$ 100 bilhões em perdas. No efeito cascata, as demais estatais sentiram o baque. Banco do Brasil e Eletrobrás foram de carona. Sobre as duas instituições pesa a mesma ameaça da mão grande administrativa. O mandatário quer a tarifa de luz mais barata e não gosta dos ajustes de estrutura promovidos pelo titular do BB. Bolsonaro é assim: mercurial. E o custo dessa postura tem sido astronômico. Em um único dia, o risco Brasil subiu 15 pontos percentuais. O capital estrangeiro partiu em debandada e as ameaças não param por aí. Na boleia dos problemas, a economia brasileira como um todo deve sentir o peso dessa guinada sem propósito. Analistas começam a rever os indicadores de inflação, juros e câmbio. O desarranjo é tremendo. O modelo liberal da economia, pregado pelo ministro Paulo Guedes, foi de vez enterrado com pá de cal. O grave desse quadro é que os senhores do capital já estavam por demais desconfiados da gestão Bolsonaro e resistiam em fazer aportes no Brasil. Algumas multinacionais, como Ford, vinham inclusive batendo em retirada. O movimento nesse sentido tende a acelerar. A quem fale numa espécie de “venezuelização” por essas bandas e há, decerto, semelhanças assustadoras entre o que faz o caudilho daqui e Hugo Chavez que comandou o desmonte industrial na nação vizinha. Quem será o fiador da credibilidade brasileira daqui para frente é a grande questão. Percebendo a própria barbeiragem, o presidente Bolsonaro tentou de última hora atenuar o estrago, enviando ao Congresso antigos projetos de privatização dos Correios e da Eletrobras, que repousam na gaveta desde meados do ano passado. Ninguém acredita piamente na encenação. A maioria acha muito difícil sair algo nessa direção ainda neste ano, na véspera da corrida eleitoral. A mão grande estatizante pesou de vez.

Carlos José Marques, diretor editorial