O boom do Metaverso popularizou os NFTs (do inglês, non-fungible tokens, ou tokens não fungíveis) no mercado, mas essa oportunidade está virando uma dor de cabeça para as grandes marcas. Na última semana, a Nike entrou com processo contra o marketplace StockX, especializado em moda esportiva, pelo uso não autorizado de produtos virtuais. Aos fatos: a plataforma norte-americana cunhou NFTs de pares de tênis Nike no seu site e passou a negociar esses “ativos digitais para investimento” sem a autorização da fabricante. Enquanto o imbróglio não ganha novos capítulos, a StockX mantém seu projeto, lançado há menos de um mês, em que o NFT de um modelo Nike Dunk Low Off-White Lot 50, uma das últimas criações do designer Virgil Abloh para a marca antes da sua morte, no fim do ano passado, é oferecido pelo lance mínimo de US$ 10 mil.

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Toda a questão gira em torno do que o NFT imprime nesse universo. De forma simplificada, um NFT é a representação de propriedade sobre um ativo, que pode ser apenas virtual ou existir também no mundo físico. Por meio da tecnologia blockchain, esse objeto, que seria infinitamente reprodutível na Internet (como a imagem de um tênis, por exemplo), passa por um processo de geração de escassez, ou seja, ele é tokenizado e transformado em um número limitado de partes (ou o todo) desse ativo. Por conta desse processo, o dono do NFT pode definir como aquele produto digital será usado, seja liberando sua reprodução pelo pagamento de royalties ou apenas transformando-o em uma peça rara, parte de uma coleção virtual. A especialista em tecnologia blockchain Tatiana Revoredo explica que caminhamos para a era da internet de valor. “É a tokenização de tudo”, disse.

A StockX está usando o NFT como certificado rastreável de propriedade do item físico (o par de tênis Nike, neste caso, pelo qual o NFT pode ser trocado a qualquer momento) e para garantir acesso do seu consumidor a serviços exclusivos na plataforma. Mas a Nike questiona a legitimidade do registro de NFT pela empresa, que não participou do desenvolvimento ou detém propriedade sobre o produto. O movimento da reclamante é crucial para entender os caminhos desse mercado daqui em diante. Se entendido que o marketplace vende algo a que não tem direito, os usuários da plataforma, donos do produto físico, poderiam solicitar registro e comercializar o NFT dos seus pares?

A Hermès é outra no mundo fashion que precisou judicializar essa discussão. A animação “Baby Birkin”, um NFT artístico de 2 mil x 2 mil pixel criado por Mason Rothschild e Eric Ramirez, foi vendida em um leilão por US$ 23,5 mil – ao menos US$ 8 mil a mais do que a bolsa custa no mundo físico. A imagem mostra uma icônica bolsa Hermès Birkin “grávida” de um feto. A grife questiona a criação e comercialização de NFT com uso não autorizado da imagem da marca. Ao contrário da Nike, que desenvolveu uma experiência dentro do game Roblox em que é possível adquirir produtos digitais da marca, a empresa francesa ainda não solicitou registro para criação de ativos virtuais, e segue de fora de um mercado cada vez maior, que já movimenta bilhões no segmento de luxo.