Terceiro homem mais rico do mundo, o americano Warren Buffett construiu sua fortuna de US$ 82,5 bilhões de dólares em um trabalho minucioso de sete décadas. Porém, ao contrário dos empreendedores da tecnologia que figuram a seu lado nas listas de endinheirados, Buffett não inventou nada. Ele se dedicou a escolher as melhores ações para comprar – o trabalho dos analistas de mercado. A diferença é que Buffett trabalhou quase que todo o tempo para si mesmo e para os acionistas de sua empresa, a Berkshire Hathaway. Já os profissionais premiados na mais recente edição do prêmio Starmine, que desde 2014 é publicado com exclusividade por DINHEIRO, colocam sua maestria a serviço de seus clientes.

David Austin, gerente da Refinitiv responsável pela elaboração do prêmio Starmine: “O mercado brasileiro mostrou uma volatilidade elevada em 2018” (Crédito:Divulgação)

Neste ano, a tarefa de escolher os melhores profissionais em duas categorias, indicação de ações e previsão de resultados, não foi fácil. “O mercado brasileiro mostrou uma volatilidade elevada em 2018”, diz David Austin, executivo responsável pela elaboração do Starmine para a Refinitiv, empresa americana antes denominada Thomson Reuters. A incerteza dos investidores com o cenário eleitoral tornou mais difícil escolher os melhores analistas. “A disputa foi bastante acirrada”, diz ele.

A premiada na categoria escolha de ações foi, pelo segundo ano seguido, a analista Renata Faber, do Itaú BBA. Nessa categoria, diz Austin, a Refinitiv compara o desempenho de uma carteira teórica formada com as ações recomendadas pelo analista com os índices de mercado. Um investidor que tivesse seguido à risca suas recomendações durante o período de análise, que foi de abril de 2018 a março de 2019, teria ganho 16,1% acima da variação média das ações do setor industrial.

Em seu trabalho, Faber acompanha as ações de empresas de locação de automóveis, indústria, transportes e concessões rodoviárias. Suas principais recomendações para os próximos meses são a empresa de autopeças Randon e a operadora logística Tegma. “Essas empresas foram muito eficientes ao cortar custos nos últimos anos e agora possuem uma boa alavancagem operacional”, diz ela. “São companhias capazes de elevar rapidamente sua receita sem pressionar os custos.” No caso da Randon, diz a analista, há uma vantagem adicional. A empresa está sólida no momento em que várias de suas concorrentes reduziram sua participação no mercado devido a dificuldades financeiras.

Outra aposta da analista são as empresas de locação de veículos. “O setor está crescendo devido a mudanças nos hábitos de transporte e à popularização dos aplicativos”, diz ela. “São ações que têm sido capazes de se descolar do nível baixo de atividade da economia.” Formada em administração de empresas pela FGV, Faber baseia suas análises na observação direta. “Adoro visitar as fábricas e falar com os executivos envolvidos na produção, como diretores comerciais e gerentes industriais”, diz a analista, no Itaú BBA desde 2005. Ela começou sua carreira no banco Fator, no ano 2000. “Comecei cobrindo empresas industriais e me apaixonei pelo assunto.”

MARESIA Luiz Carvalho, analista do banco suíço UBS, premiado como o melhor em previsão de resultados, costumava passar semanas ilhado no trabalho. Não é figura de linguagem. O engenheiro de produção formado na UERJ começou sua carreira no setor de petróleo. Seu primeiro emprego foi na gestão da rede de varejo da distribuidora Shell. Em 2006, entusiasmado com as perspectivas do pré-sal, Carvalho migrou para uma petrolífera internacional que testava as águas por aqui. “Eu passava quinze dias por mês embarcado nas plataformas”, diz ele. Após três anos, várias petrolíferas listaram suas ações na Bolsa. Além da capitalização da Petrobras em 2012, companhias como OGX, PetroRio (então chamada HRT) e Enalta (originalmente QGEP, do grupo Queiroz Galvão) movimentaram o mercado de capitais. Com isso, Carvalho decidiu aproveitar seu conhecimento do setor e trocar a maresia das plataformas pelo ar condicionado dos bancos de investimento. Começou no Santander e passou para o UBS em 2012, realizando análises para investidores institucionais.

Atualmente, o analista acompanha regularmente 12 companhias. Sete brasileiras, e outras cinco na Argentina, no México e na Colômbia. No geral, suas perspectivas para o setor são positivas. “A demanda por petróleo permanece constante e elevada, com a necessidade de as empresas continuarem abrindo novos locais de exploração para substituir os que se esgotam”, diz ele. Esse movimento deverá manter os preços do barril acima de US$ 70 no longo prazo, nível que manterá a competitividade das empresas.