O que era para ser uma história de ascensão e glória tornou-se uma derrocada. O Barcelona, antes da pandemia causada pelo novo coronavírus, foi o primeiro clube do mundo a ultrapassar US$ 1 bilhão de receitas anuais. Agora, a dívida do time catalão é de US$ 1,4 bilhão, sendo uma grande parte de despesas a curto prazo. O Barcelona anunciou o término do contrato com o craque argentino nesta quinta-feira (5).

Para entender o que levou um dos maiores clubes da história do futebol do apogeu com Guardiola, Xavi e Iniesta ao declínio financeiro, é preciso entender a passagem de Lionel Messi pela equipe.

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Apesar dos boatos de que Messi aceitaria uma redução salarial para seguir no Barcelona, o clube citou “obstáculos econômicos e estruturais” para não renovar o contrato. A equipe passa por um processo de redução de sua folha salarial para atingir o limite imposto pelo Campeonato Espanhol (La Liga).

Este limite salarial espanhol é baseado em um cálculo simples: o faturamento total clube menos os gastos com o time profissional devem sempre ser positivos. O presidente da La Liga, Javier Tebas, deixou claro que o Barcelona precisava negociar jogadores se quisesse inscrever novos atletas para a próxima temporada que começa neste mês de agosto.

A crise sanitária e a falta de torcida agravaram a crise econômica do clube, mas sua origem é ainda mais antiga.

Com a crise financeira, o Barça viu seu faturamento de 671,4 milhões de euros no início da temporada 2019/20 para 347 milhões de euros no fim de 2020/21. Neste ano, segundo o jornal inglês The Guardian, a receita será de 200 milhões de euros.

Já o jornalista Simon Kuper, que escreveu um livro sobre a crise do Barcelona, publicou no Financial Times uma análise em que aponta que a crise do time catalão começou em junho de 2015, com a conquista da quarta Liga dos Campeões. Com a saída de Sandro Rosell, assumiu a presidência do clube Josep Maria Bartomeu.

Nesta época o time formou seu lendário ataque MSN, com Messi, Luis Suárez e Neymar. Centralizador, Bartomeu chegou a ter cinco diretores de futebol em seis anos de mandato, incomum até aos padrões de futebol brasileiros.

A queda do Barcelona inicia-se de fato com a saída de Neymar, em 2017, para o Paris Saint-Germain (PSG), por uma transferência recorde de 220 milhões de euros. No entanto, não houve dinheiro que reparasse a eficiência em campo do ponteiro brasileiro – Mbappé e Haaland chegaram a ser oferecidos, mas os dirigentes catalães rejeitaram.

Então, Bartomeu foi responsável por duas contratações que não tiveram sucesso em campo: 105 milhões de euros em Dembelé e 160 milhões de euros em Philippe Coutinho. Além disso, o salário de Messi aumentava exponencialmente: entre 2017 e 2021, ganhou mais de 555 milhões de euros, segundo o jornal espanhol El Mundo. O salário de Messi triplicou entre 2014 e 2020, mas o problema não era o atleta argentino.

“Messi não é o problema. O problema é o contágio do resto da equipe. Sempre que Messi ganhava um aumento, seus companheiros também queriam”, disse uma fonte do Barcelona ao Financial Times. O salário de Messi tornou impossível para o Barcelona comprar novamente Neymar, o que era um pedido de Messi em 2019.

Mesmo sem conseguir Neymar, o Barcelona contrata o francês Griezmann por 120 milhões de euros. No total, entre 2014 e 2019, o Barça gastou mais de 1 bilhão de euros em transferências de jogadores. No entanto, a contratação mais suspeita da era Bartomeu foi pagar 10 milhões de euros pelo desconhecido meia Matheus Fernandes, então reserva do Palmeiras. O atleta jogou 17 minutos pelo Barcelona.

No verão de 2020, o déficit de transferências começou a assombrar o clube. Novas regras do governo espanhol determinavam que os diretores teriam de cobrir os déficits do clube do próprio bolso.

Nesta temporada, o Barcelona pode gastar até 200 milhões de euros em contratações, um terço do que costumava gastar em anos anteriores. Porém, o clube não só precisa lidar com salários astronômicos, como ainda precisa amortizar transferências fracassadas.

Do topo do mundo, com Neymar e Messi ganhando uma Liga dos Campeões a uma temporada em que só consegue contratar atletas livres no mercado, sem taxa de transferência.

Bartomeu foi preso em março deste ano, em seu escritório no estádio Camp Nou, junto com o diretor jurídico Rumo Gómes Ponti e o ex-assessor da presidência do clube, Jauma Massafer. O “Barçagate” investiga a contratação de uma empresa que tinha por objetivo difamar quem fazia oposição a seu mandato no clube.