Mesmo sem caso do novo coronavírus confirmado no Brasil, o governo Jair Bolsonaro reconheceu “emergência de saúde pública em território nacional” por causa do avanço da doença, elevando o grau de risco ao nível 3, o mais alto na escala. O anúncio foi feito nesta segunda-feira, 3 pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Na China, onde o vírus foi registrado pela primeira vez em dezembro, o surto causou 426 mortes e mais de 20 mil casos. Ao menos 24 países já reportaram infectados.

A emergência foi antecipada para dar mais “agilidade administrativa” ao governo para compras de equipamentos de segurança, como máscaras e luvas para agentes de saúde, assim como para a operação de retirada de brasileiros na região de Wuhan, na China, epicentro da doença. Na semana passada, o governo descartava a repatriação, mas anteontem anunciou que vai resgatar os brasileiros que estão no local, após pressão do grupo. A mesma medida foi adotada por outros países, como Estados Unidos e Japão.

Antes, o governo havia dito que acionaria o último nível de alerta se fosse confirmada uma infecção no Brasil. Por enquanto, o Ministério da Saúde monitora 14 casos suspeitos, em quatro Estados, mas não houve confirmação da doença no País.

O governo enviou ao Congresso um projeto de lei sobre regras para a quarentena sanitária. Inicialmente, o Planalto pretendia editar medida provisória (MP) sobre a quarentena, que teria vigência imediata, mas precisaria ser aprovada pelo Parlamento em até 120 dias.

Presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) ponderou que a MP não poderia ser votada assim que chegasse ao Congresso, pois precisaria passar por comissão especial. O PL pode ter rito mais simples e ir direto ao plenário, pulando a etapa da comissão, a partir de pedido de urgência para tramitar. O isolamento deve ser de 18 dias, disse Mandetta, mas ainda não foi confirmado o local onde serão acolhidos os brasileiros.

Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni disse que Anápolis (GO), Florianópolis ou uma localidade no Nordeste podem ser escolhidas para a quarentena. Técnicos do ministério devem viajar hoje para cidades que podem receber os repatriados. Segundo o governo, Israel se ofereceu para ser o local de escala do voo vindo da China.

Também foi aberta licitação para contratar o avião, civil, que será usado na operação. O governo estima haver 55 brasileiros na região de Wuhan – 40 deles com interesse no resgate.

Força-tarefa

O governo enviará agentes de saúde à China para examinar brasileiros que devem deixar a região de Wuhan. No Brasil, durante a quarentena, eles devem ficar em quartos individuais.

Segundo Mandetta, só os brasileiros em Wuhan vão para a quarentena, pois não há forte transmissão do vírus em outras cidades chinesas. Ele disse que não há orçamento estimado para ações de combate ao avanço do coronavírus no País. Mas o Ministério da Saúde, por ora, não deve pedir reforço de orçamento à equipe econômica.

Nesta quarta-feira, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde debaterá em Brasília a distribuição dos leitos de UTI que serão alugados pelo ministério e a distribuição de medicamentos aos Estados para conter o coronavírus. Cada secretário deve apresentar a sua “realidade e necessidade”, disse o presidente do conselho, Alberto Beltrame.

Preconceito

O servidor público aposentado José Neves de Siqueira Junior, 58 anos, se emociona ao telefone ao falar sobre a condição do filho, Vitor de Siqueira, de 28 anos, brasileiro que está na cidade de Wuhan, na China, epicentro do surto do coronavírus. “Nossos filhos estão voltando na condição de pestilentos e obrigados a se retirar para um lugar distante, longe dos familiares”, diz ele.

Neves explica que seu filho e os outros deveriam passar por uma quarentena mais humanizada. “Nenhum dos brasileiros lá apresentou sintoma. Mas tudo bem, se essa é a orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) e se é o preço para que meu filho possa voltar a ser abraçado sem que a sociedade tenha medo ou preconceito, aceito”, afirma. “Ainda assim, deveria ser uma quarentena menor. Deveria ser feita voluntariamente, dentro da própria casa – com acompanhamento ou fiscalização de um imunologista da própria cidade.”

Neves conta também que se sentiu decepcionado com a condução da crise pelo governo brasileiro – diz até que ele e outros pais estavam dispostos a pagar o voo de volta se os filhos pudessem embarcar em uma companhia comercial. “Quando o governo fala em despesas, me sinto ofendido”, afirma ele, que também reclama de falta de apoio.

“Minha mulher e eu já estamos de malas prontas. Seja onde for, Amazônia, Acre, ou em qualquer outro lugar, estaremos perto do nosso filho”, diz o pai, de Belo Horizonte. Vitor estuda mandarim e, segundo o pai, pretende voltar à cidade chinesa quando tudo estiver resolvido “para retribuir o carinho de todos por lá”. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.