Apesar de ter recebido, em um só dia, o aval de investidores como Warren Buffett e Luis Stuhlberger, há fatores da operação do Nubank que ainda incomodam alguns analisas. Um deles é a questão de lucratividade. Em 2020, o Nubank conseguiu reduzir o prejuízo em 26%, mas ainda assim teve perdas de R$ 230 milhões.

O estrategista-chefe da casa de análises Eleven Financial Research, Adeodato Volpi Netto, alerta, porém, que não é possível enxergar o Nubank como uma “fotografia”, mas como um “filme”. Segundo ele, a entrada de Buffett, conhecido no mercado como um investidor de longo prazo, ratifica um cenário positivo para a fintech.

“O DNA da Berkshire Hathaway é de investir em companhias que terão valor no longo prazo e o Nubank tem todas as ferramentas para criar um modelo de monetização forte a partir da sua base de clientes e com um modelo de geração crescente”, diz Volpi Netto.

O Nubank acabou de atingir 40 milhões de clientes em suas plataformas. O que também ajudou na expansão de clientes foi a aprovação em maio da aquisição da corretora Easynvest. Para se ter uma comparação, o Banco Inter alcançou 10,2 milhões de usuários no primeiro trimestre deste ano e o Next, do Bradesco, tem cerca de 4 milhões e prevê chegar a 7 milhões de clientes no fim do ano. Grandes bancos e empresas de serviços, como o Mercado Livre, também estão de olho nesse filão.

Na visão de Álvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do Modalmais, a capitalização do Nubank e o atual tamanho trazem grande vantagem momentânea, porém o jogo ainda está bem aberto.

“Não dá para avaliar se o valor de US$ 30 bilhões é justo, pois não temos acesso a todos os números, mas o Nubank está em um momento importante. Mesmo assim, não podemos falar que ele disparou. Os grandes bancos estão fazendo esse movimento e também têm muitos recursos para investir e para permanecerem grandes”, diz ele.

Quem está mais perto do Nubank nessa corrida, pelo menos em número de clientes, é o Inter, que viu as suas ações caírem 0,5% no pregão de ontem. A queda também veio um dia após o banco confirmar que vai realizar uma oferta subsequente de ações (follow-on) para se capitalizar. A Stone, empresa de meios de pagamento, já anunciou que pretende investir R$ 2,5 bilhões no Inter por meio dessa operação.

As fintechs estão em um momento de investimento intensivo. Em troca de crescimento acelerado, essas empresas queimam caixa e, consequentemente, lucro. Por isso, esses aportes podem fazer grande diferença perante a concorrência, ainda mais na busca pelos “desbancarizados”, público disputado ferozmente pelas instituições.

“Existe espaço para todos no setor, pois o Brasil ainda tem um déficit muito grande em pessoas bancarizadas. Mas vai ser difícil repetir a trajetória do Nubank, pois a empresa se tornou um ponto fora da curva”, diz Renato Mendes, especialista em inovação e CEO da consultoria F5 Business Growth.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.