A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, prometeu neste sábado (16) a continuidade nas relações entre Alemanha e Turquia, que incluem a cooperação, mas também críticas, em sua visita de despedida ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Merkel, que prossegue com seu giro de despedida após 16 anos no poder, foi recebida em Tarabya, uma espetacular residência presidencial sobre o Estreito de Bósforo em Istambul.

“Às vezes fui crítica diante dos fatos que observamos no âmbito dos direitos humanos e liberdades individuais”, reconheceu a chanceler em coletiva de imprensa.

“A única coisa que posso dizer é que será assim com o próximo governo alemão: a relação entre Turquia e Alemanha continuará, com seus lados bons e ruins”, assegurou Merkel.

O presidente Erdogan, por sua vez, que agradeceu em duas ocasiões à sua “querida amiga” Angela Merkel, manifestou preocupação com o que está por vir: “Nunca é fácil trabalhar com uma conciliação”, como a que está em negociação na Alemanha para a formação de um futuro governo.

Nos 16 anos em que esteve à frente da Alemanha, e apesar de fortes divergências em alguns momentos, inclusive tensões após a tentativa de golpe de Estado de 2016 na Turquia, Merkel sempre tentou manter as portas abertas entre Berlim e Ancara, e também zelou para que a Europa não fechasse as suas para seu grande vizinho.

A Alemanha, onde vivem cerca de três milhões de pessoas de origem turca, segundo as últimas estimativas oficiais, interveio em diversas ocasiões para defender Ancara em momentos em que as relações com a União Europeia (UE) se deterioravam.

Berlim teve um papel especialmente importante para o estabelecimento de um acordo crucial sobre migração, no qual a UE propôs 6 bilhões de euros para que a Turquia retivesse os refugiados em seu território, sem permitir que eles avançassem rumo ao oeste.

– ‘Guest-house’ –

Nesse sentido, o presidente turco disse hoje que o seu país tinha se convertido em uma “guest-house” (casa de hóspedes) para os refugiados, entre os quais há mais de 3,5 milhões de sírios e 300.000 afegãos.

A chanceler louvou esse “trabalho importante” e garantiu que “o apoio europeu à Turquia continuará”. “Para pôr fim ao tráfico de seres humanos, o apoio da UE é necessário: já pagamos 4,5 bilhões de euros dos 6 bilhões” acordados, afirmou.

Contudo, a relação especial entre Alemanha e Turquia, muito dependente da personalidade de Merkel e de seu peso no cenário europeu, será provavelmente afetada com o novo governo em Berlim, na opinião de Günter Seufert, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e de Segurança alemão.

Ambos os dirigentes mantinham “relações pessoais difíceis sobre muitos pontos, mas sempre conseguiram garantir uma atmosfera de cooperação e trabalho. A Alemanha nunca fechou suas portas e sempre manteve um canal aberto” com a Turquia, explicou o especialista à AFP.

Graças a Merkel, as relações com Berlim foram muito melhores do que com Washington ou Paris, opinou Seufert, que, no entanto, previu relações mais complicadas no futuro.

“Seja quem for o novo chanceler, não terá no cenário europeu o mesmo peso nem a autoridade de Angela Merkel”, sentenciou.